O Presidente João Lourenço enfrenta um dilema significativo à medida que seu segundo mandato se aproxima do fim: a tentativa de reduzir as relações com os tradicionais parceiros chineses e russos e estreitar laços com os americanos não tem proporcionado os resultados financeiros esperados para Angola. Esta estratégia, embora ambiciosa e alinhada com uma visão de diversificação de parcerias internacionais, revelou-se insuficiente diante da atual conjuntura global e das limitações econômicas dos Estados Unidos.
A administração de Joe Biden, sobrecarregada por questões internas e conflitos internacionais, não conseguiu oferecer o suporte financeiro que Angola necessita para desbloquear projetos vitais. No entanto, os interesses geoestratégicos dos EUA na África, especialmente na redução da influência chinesa e russa, mantêm os americanos interessados em Angola, sobretudo devido aos minerais estratégicos que o país possui. Mesmo assim, essa relação não tem se traduzido em investimentos concretos e imediatos.
Enquanto isso, João Lourenço está aflito com a paralisia de inúmeros projetos por falta de recursos. Sem o apoio financeiro dos americanos, a única alternativa viável parece ser retornar aos antigos aliados chineses. Isso já está em evidência com a renovada presença chinesa em projetos de infraestrutura como a primeira autoestrada de Angola, a refinaria do Soyo e o metro de superfície de Luanda, depois da desistência dos alemães da Siemens Mobility. Essas iniciativas sublinham a incapacidade ou falta de vontade das empresas ocidentais em investir em Angola, contrastando com a disposição chinesa de avançar com grandes projetos.
A análise do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Económico e Social de África (Cedesa) destaca essa reorientação necessária. A entidade observa que a nova política externa de João Lourenço, que tentou posicionar Angola como uma potência regional ao aproximar-se dos Estados Unidos e dos países árabes do Golfo, teve que manter as relações com a China e a Rússia. O Corredor do Lobito exemplifica essa dualidade, sendo um projeto que não pode ser exclusivamente norte-americano, mas que deve ser um esforço cooperativo sino-americano para ter sucesso.
A recente viagem de João Lourenço a Pequim e o subsequente “renovado vigor” chinês em Angola mostram que, apesar das tentativas de diversificação, a dependência da China continua forte. O Cedesa ressalta que as “vontades americanas e ocidentais não chegam” porque Angola precisa de dinheiro imediato, e a China parece estar em condições de fornecer esse apoio, enquanto os Estados Unidos se perdem em planos e intenções sem soluções práticas e operacionais.
Este cenário coloca João Lourenço em uma posição difícil. Com seu segundo mandato chegando ao fim e as chances de um terceiro mandato sendo improváveis, ele precisa mostrar resultados concretos. A falta de apoio financeiro americano obriga-o a bater novamente à porta da China, reafirmando a dependência de Angola dos financiamentos chineses para assegurar seu desenvolvimento.