Luanda – Corpo de um homem torturado com vários objectos contundentes até à morte, no município de Cafunfo, província da Lunda-Norte, foi encontrado num matagal em estado avançado de decomposição, na localidade de Tximango, área de exploração de diamantes da Sociedade Mineira do Cuango (SMC), cuja acção é atribuída a supostos seguranças da empresa privada “Kadyapemba”, que protege o perímetro.
Os presumíveis implicados no assassinato do homem, que em vida respondia pelo nome de Tito Félix Quitumba, ainda não foram identificados, sendo que, no local, de acordo com depoimentos de familiares, foi encontro engenhos de balas de armas de fogo e a vítima tinha as costelas fragmentadas.
O crime ocorreu no domingo, 24 de Agosto de 2025, tal como descreveu ao Club-K, o jovem Ernesto Tito Felix Quitumba, 18 anos, filho do malogrado, que à data dos factos, esteve em companhia do seu pai nas matas da aldeia de Tximango.
Segundo ele, testemunhou a poucos metros a “brutalidade” dos seguranças contra o seu pai com pedras até ser asfixiado no Rio Cuango até à morte.
“Eu vi dez efectivos de seguranças Kadyapemba a apedrejar e asfixiaram o meu pai no rio Cuango, até a morte”, contou, tendo acrescentado que “um dos seguranças tentou me pegar na mão, mas quando lhe mordi largou-me e começaram a apedrejar o meu pai que estava a lavrar o cascalho no rio”.
Familiares da vítima lamentam que “não houve e não há diligências por parte de autoridades locais com vista responsabilizarem os mandantes desse assassinato”, por isso exigem a realização de autópsia ao cadáver.
Diante dos factos, a família do malogrado entende que foi negada a justiça, pois, segundo denunciaram, às autoridades policiais que terão sido contactados, sem citar nomes, alegaram que não têm como notificar a empresa de segurança privada “Kadyapemba”, tendo em conta a sua dimensão e por ser uma empresa de altas figuras do Governo angolano.
Silêncio das autoridades perante assassinatos recorrentes de civis em zonas de exploração de diamantes
Segundo os activistas na província da Lunda-Norte, os crimes que violam os direitos humanos nas minas de diamantes, têm sido recorrentes e mantém-se o “silêncio” da Procuradoria Geral da República, da Assembleia Nacional, da Provedoria de Justiça, do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos e outras instituições do Estado, “diante de atrocidades cometidas pelas empresas de segurança”.
O activista e defensor dos direitos humanos, Jordan Muacabinza, afiliado à Front Line Defenders, garantiu que “não se vai calar” perante actos que atentam contra a vida das pessoas, nem de qualquer acto que viole os direitos humanos.
“Não vou me calar diante de casos que desrespeitam a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, e continuarei a denunciar esses actos, pois a denúncia não é crime e não é manchar este ou aquele. Estamos a pedir em hasta pública o fim de mortes de civis nas minas de diamantes e em Angola”.
Jordan Muacabinza lembrou que as mortes de cidadãos garimpeiros na região das lundas remontam do consulado do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e se repercutem ao longo da governação do Presidente João Lourenço, actos que segundo o activista “são cometidos por empresas de segurança privada, que protegem as mineradoras de altas figuras do país”.
De acordo com Muacabinza, “esses assassinatos nunca mereceram qualquer atenção por parte de magistrados do Ministério Público assim como dos legisladores, que regulam as leis no país”.
“O excesso de crimes cometidos pelos seguranças que protegem as empresas de diamantes, têm a ver com a corrupção, abuso de poder e tráfico de influência. Dignos magistrados de Angola, Provedoria de Justiça, estamos simplesmente clamando pelo respeito aos direitos humanos, pela segurança, pela vida dos cidadãos que diariamente são executados nas zonas de extração de diamantes”, salientou o activista.
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