Ex-colaborador do SIC acusa director de Combate ao Narcotráfico de o manter em cativeiro

Um ex-colaborador do Serviço de Investigação Criminal (SIC), Afonso Mendes, afirma estar a viver um autêntico pesadelo, após ter revelado publicamente o esquema de tráfico de droga pesada no seio daquele órgão do Ministério do Interior.

O mesmo diz ter sido mantido em cárcere privado durante mais de uma semana, em condições que descreve como “desumanas e degradantes”, alegadamente por ordens directas de um grupo liderado pelo comissário Rufino Mário Zangui Gunza, actual director nacional de Combate ao Narcotráfico.

Afonso Mendes ganhou notoriedade após conceder uma entrevista à Rádio Ouvinte, onde denunciou supostas redes internas de tráfico de droga envolvendo elementos do próprio SIC. Desde então, a sua vida virou um autêntico inferno.

Segundo o denunciante, depois de cerca de seis meses a trabalhar dentro das instalações do SIC-Geral, em Cacuaco onde exercia funções informais como “homem de confiança” do comissário Rufino – foi transferido para a residência oficial do mesmo, situada no bairro do Benfica, onde alega ter sido privado de liberdade e mantido sob vigilância constante.

“Fui trancado, ameaçado e impedido de sair. Disseram-me que a minha língua estava a ir longe demais”, contou o mesmo, numa das declarações enviadas a familiares.

O caso, que corre sob segredo de justiça na Polícia Judiciária Militar, está a provocar forte mal-estar interno no SIC.

Fontes próximas ao processo, que preferem manter o anonimato por medo de retaliações, confirmam que as denúncias de Mendes “não são fantasiosas” e que “há muito mais por detrás do que o público imagina”.

A mesma fonte admite que a instituição vive um clima de tensão e desconfiança. “Há oficiais que sabem o que se passa, mas ninguém quer ser o próximo a desaparecer”, afirmou.

O comunicado oficial do SIC, assinado por Manuel Halaiwa, tentou descredibilizar a denúncia, classificando-a como “infundada e motivada por interesses pessoais”.

No entanto, a versão oficial gerou indignação dentro da própria corporação, já que – segundo fontes internas – foi o próprio Halaiwa quem apresentou Afonso Mendes ao comissário Rufino, o que lança dúvidas sobre a imparcialidade do comunicado.

A denúncia reacende o debate sobre abuso de poder, violação dos direitos humanos e falta de transparência num dos órgãos mais sensíveis do aparelho de segurança angolano.

Enquanto isso, Afonso Mendes teme pela própria vida e afirma que só quer “justiça e proteção”. “Se algo me acontecer, o país precisa saber quem está por trás”, concluiu.

Imparcial Press

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