Auto-demissão do jornalista Neto Segunda expõe arrogância de Miguel de Almeida que responde: “No trabalho primo pelo rigor”

A auto-demissão do jornalista angolano Neto Segunda do cargo de Director da Comunicação Social da Administração Municipal do Calumbo despoletou um escândalo que expõe a alegada “arrogância e prepotência” de Miguel Silva de Almeida na liderança do recém-criado município, culminando com a sua exoneração pelo Governador Auzílio Jacob.

Neto Segunda, quadro da Rádio Nacional de Angola (RNA), formalizou a sua saída, citando a “falta de respeito aos seus colaboradores directos” como principal motivo. Um documento tornado público esta semana descreve a deterioração do ambiente de trabalho: “logo nos primeiros 20 dias, Miguel Silva de Almeida humilhou e exonerou o Director da Fiscalização,” descreve o documento, sublinhando o clima de tensão inicial imposto.

Apesar das acusações, Miguel Silva de Almeida, que exerce actualmente as funções de Secretário do MPLA no município, negou veementemente as críticas em declarações a O Decreto: “não sou e nunca serei arrogante. No trabalho primo pelo rigor, pontualidade, assiduidade e produtividade. Estes são os critérios que uso para estabelecer uma boa equipa de trabalho,” declarou Almeida.

Contudo, outras fontes, em anonimato, apresentaram um quadro de gestão caótica e de forte influência externa: “Miguel Silva de Almeida perdeu o norte, deixou de ouvir os seus colaboradores diretos, passou a ouvir e a fazer, tudo que o Madeira e o Pai Diesel lhe mandavam”, contou uma fonte a O Decreto.

O suposto Administrador, referido também como “Lito” em algumas denúncias, estava também sob pressão por ausências não autorizadas e actos de gestão questionáveis: “Estava constantemente fora do País, sem autorização do seu superior hierárquico”, disse uma fonte.

“O Administrador Adjunto (referindo-se ao Adjunto para a Área Técnica), tinha abandonado a Administração, porque o ambiente laboral já não era dos melhores” lamentou outra fonte.

A exoneração do Ex-Secretário-Geral deu-se porque este “negou incluir as empresas do Pai Diesel para atribuição de obras”, alegando que as mesmas “não tinham condições para o efeito”.

“Devido a pressão dos Kuduristas, o Lito exonerou o Adilson Janota”, contou a fonte, exemplificando a influência externa nas decisões administrativas.

Sabe-se também que, a exoneração de Miguel Silva de Almeida, dez meses após assumir o cargo, foi comunicada pelo Governador Auzílio Jacob. O ambiente de trabalho na Administração Municipal do Calumbo é descrito como insustentável “Desde os administradores adjuntos ao pessoal da limpeza, o ambiente de trabalho, sob gestão de Miguel Silva de Almeida, era excessivamente tóxico e, por isso, bastante difícil, pelo que deixou mais recordações negativas do que positivas”, revela o documento.

A instabilidade é confirmada por dados internos: “Calumbo apresenta-se como o município com mais exonerações e novas nomeações… um registo justificado pela arrogância e prepotência do então administrador”, aponta a denúncia. A situação levou até familiares e contemporâneos que faziam parte da sua equipa a abandonarem os respetivos cargos.

Outros relatos de desrespeito não se limitaram aos subordinados. O Filósofo e Artista Plástico António Tomás Ana (Etona) proferiu duras críticas públicas, na Rádio LAC, pela forma desrespeitosa como o Administrador sonegava a situação de um terreno para uma Escola de Artes.

Outro episódio envolveu o ministro Mário Oliveira, que lamentou o desrespeito de Almeida por ter chegado depois de si a um evento oficial, onde deveria ter sido recebido pelo Administrador.

A exoneração de Miguel Silva de Almeida foi decidida em reunião do Conselho do Governo, sendo justificada pelo Governador Auzílio Jacob pela existência de “certos processos que pesam” sobre Almeida a decorrer no Serviço de Investigação Criminal (SIC), relacionados a conflitos de terrenos.

O Governador tomou a decisão de comunicar a exoneração, deixando-o “à disposição do SIC”, devido a reclamações do próprio órgão de investigação sobre as alegadas sucessivas indisponibilidades de Almeida em responder às notificações.

O Decreto continuará a acompanhar o desfecho deste caso e os desenvolvimentos na nova administração do Calumbo.

O Decreto

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