PREÇOS. Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros (Transcol) considera que o Governo não devia parar de subvencionar o sector dos transportes públicos urbanos. Despesas com o gasóleo aumentam em 33% para os camionistas. Taxistas questionam cálculos do governo para a definição do preço da corrida.
Por Afonso Benjamim
As diversas associações do sector dos transportes consideram “preocupante” o recente aumento de tarifa no serviço de táxi para 300 kwanzas e do serviço de autocarros urbanos para 200 kwanzas, autori zado pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), na sequência da subida do preço do gasóleo para 400 kwanzas.
Para o presidente da Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros (Transcol), Carlos Carneiro, o aumento da tarifa dos autocarros em 33%, de 150 para 200 kwanzas, “não satisfaz” as operadoras, face às perdas financeiras resultantes do aumento dos custos operacionais desde que o Governo deixou de subsidiar os combustíveis dos autocarros.
“Na nossa estrutura de custos, temos pagamentos de segurança social, IRT, internet, combustível, manutenção das infraestruturas. É toda uma componente de custos previstos e não previstos, que culminam em despesas muito altas. Com 200 kwanzas, continuamos como anteriormente, porque o gasóleo também passou para 400 kwanzas”, explica. Face ao “cenário negativo no sector”, Carlos Carneiro refere que actualmente, para as operadoras tratarem de toda a estrutura de custos operacionais, a tarifa real que tinha de ser cobrada seria de 700 kwanzas por passageiro, embora entenda também que trata de um valor que “pesaria em grande medida” nos bolsos dos cidadãos.
“Deve haver uma componente de subsidiação, para que o utente não pague um preço de 700 kwanzas. Alguém tem de assumir o ónus dessa opeгаção, até porque as pessoas pagam impostos. Não estamos a pedir a subsidiação dos transportes na sua totalidade, mas para o público urbano de passageiros”, apela, acrescentando que o nível de operacionalização das operadoras corresponde a entre 25 e 30% da frota.
A partir desta segunda-feira, 07, pelo menos duas operadoras também aumentaram o preço dos segmento do serviço de transporte expresso. É o caso da Viação Cidrália e da Rosa lina Express.
Na rota Zango-Largo das Escolas, a Rosalina Express subiu o preço da corrida de 800 para 900 kwanzas (12,5%), ao passo que Viação Cidrália aumentou de 700 para mil kwanzas (42,85%). Ambas empresas já haviam feito uma actualização em Março deste ano, como resposta à anterior subida de preço do gasóleo de 200 para 300 kwanzas (50%)
No segmento do serviço de táxis colectivos, a Associação de Taxistas de Angola (ATA) mostra-se “surpreendida” com o actual ajuste da tarifa de 200 para 300 kwanzas, uma vez que, diferente do exercício passado, não foram consultados para equacionarem o actual preço.
Segundo o vice-presidente da organização, Lucas Miguel, a ATA e a Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), quando receberam a informação do aumento de preço do gasóleo, pretendiam paralisar as actividades no primeiro dia laboral da semana, para uma reunião de concertação geral, mas depararam-se, no final de semana, com o comunicado da subida da tarifa do táxi de 200 para 300 kwanzas.
“A tarifa não é satisfatória, porque no valor que aumentou, apenas foi tida em conta a actualização do preço do gasóleo, quando, em breve, o preço da gasolina também será alterado com um valor que ainda se desconhece”, antecipa.
Para o líder associativo, se tivessem sido convidados, sugeriam que se mantivesse a tarifa de 200 kwanzas, uma que temem ficar de ‘mãos atadas” quando o preço da gasolina aumentar, pelo que consider a ser “uma estratégia do Governo para não haver alteração”.
Com essa segunda actualização dos preços dos transportes públicos, os angolanos passarão a ter um peso significativo nas despesas de transporte.
Por exemplo, para quem vive no município de Viana e trabalha no centro da cidade, auferindo o salário mínimo nacional de 70 mil kwanzas, com recurso aos táxis (azuis e brancos) poderá pagar em média 900 kwanzas na deslocação ao serviço e mais 900 kwanzas no regresso a casa, totalizando 1.800 kwanzas por dia, contra os 1.200 kwanzas actuais, o que culminará num valor mensal de aproximadamente 39.600 kwanzas. Subtraídos dos 70 mil kwanzas. restará apenas 30.400 kwanzas do salário.
TRANSPORTES DE MERCADORIAS JUNTAM-SE AOS AUMENTOS
António Gavião, Associação dos Transportes Rodoviários de Mercadorias de Angola (ATROMA), admite que, face ao aumento do preço do gasóleo, as empresas associadas à organização que dirige também já começaram a estudar preços para a justar os fretes de acordo com as estruturas de custos.
“Para se ter umaideia, anteriormente, para se abastecer o depósito de um camião de 800 litros, gastava-se 240 mil kwanzas, agora estamos a falar em 320 mil kwanzas para a mesma capacidade”, compara, acrescentando que se trata “de uma situação que afecta em cadeia” e que, enquanto vigorar a retirada gradual da subvenção dos combustíveis, as tarifas serão ajustadas na mesma proporção.
SERVIÇO DE MOTO TÁXI TAMBÉM AUMENTA
Embora não recorram ao gasóleo para abastecer as motorizadas, os mototaxistas consideram não haver outra opção, senão equiparar o preço da corrida com os táxis colectivos, tendo em conta que uma alteração na tarifa dos serviços de transportes públicos de passageiros influencia todos os outros sectores.
“Se o mototaxista não subir o preço, ficará ultrapassado, porque o preço da alimentação que compra já não será o mesmo, e independentemente de a gasolina não subir ainda, os outros sectores que afectam a directamente a vida qualquer cidadão serão afectados com altos custos”, defende Bento Rafael, presidente da Associação de Motoqueiros e Transportadores de Angola (AMOTRANG).
Os ajustes de preços dos combustíveis em Angola partem de um processo de remoção gradual dos subsídios e estão previstos para continuar até ao final de 2025.
Valor Económico