A análise do IGCT incide sobre 77 indicadores agrupados em seis dimensões. Na maioria dos parâmetros, as fragilidades de Angola sobressaem e refletem a produtividade e o desempenho da economia. “A competitividade de talentos não é só uma função do nível de renda das economias, mas também das políticas públicas”, diz índice.
Apesar de Angola ter subido quatro posições no Índice Global de Competitividade de Talentos (IGCT) 2025, o País mantém-se entre os 10 com pior desempenho, ocupando o 126.º lugar num universo de 135 países com 25,35 pontos, numa pontuação que vai de 0 a 100.
A classificação reflecte o baixo investimento nos sectores sociais, sobretudo na educação, e da ineficácia das políticas destinadas à formação e valorização de recursos humanos, segundo o relatório do Instituto Europeu opeu de Administração de Empresas (INSEAD) e do Instituto Portulans, um think tank de pesquisa na área da educação sediado em Washington.
Os 135 países avaliados representam colectivamente mais de 97% do PIB global e 93% da população mundial. A análise do IGCT incide sobre 77 indicadores agrupados em seis dimensões, nomeadamente capacitar, atrair, desenvolver e reter talentos, além das habilidades vocacionais e técnicas e das habilidades adaptativas generalistas, que definem o perfil de saída e o impacto dos talentos formados.
O estudo abrange parâmetros como a eficácia das políticas públicas de recursos humanos, o ambiente regulatório, o acesso à internet nas instituições de ensino, o investimento em pesquisa e desenvolvimento, a percentagem de estudantes estrangeiros no sistema educativo, o rácio remuneração e produtividade, a protecção social e indicadores como as soft skills (competências de comunicação, comportamentais e interpessoais).
Na maioria dos indicadores, o desempenho de Angola, 28.° entre os 35 países africanos analisados, acende o sinal de alarme quanto ao fracasso das políticas públicas de desenvolvimento do capital humano e à fraca execução orçamental das verbas destinadas à educação. Só para se ter uma ideia, até ao segundo trimestre deste ano, apenas 24% dos 2,3 mil milhões Kz previstos para o sector da Educação haviam sido executados, comprometendo o ponto de partida para a formação de quadros. Para Eva Santos, especialista e consultora em recursos humanos, este indice reflecte muitos anos de falta de investimento, desenvolvimento e capacitação das pessoas.
A melhoria destes indicadores exige políticas mais alinhadas as necessidades educativas, começando pelo ensino primário e secundário, onde as deficiências são mais evidentes na formação do capital humano em Angola, sem deixar de parte a formação técnico-profissional. “O País continua a perder terreno em indicadores internacionais, enquanto exemplos como Cabo-Verde [83.° no Índice e 4.º em África demonstram avanços significativos na capacitação e motivação de pessoas.
Angola precisa reforçar a cultura de aprendizagem continua, investir mais em educação e incentivar a exposição internacional e a mobilidade, trazendo novas visões e conhecimentos”, disse a especialista ao Expansão.
Os indicadores do IGCT 2025 reforçam os dados do Censo de 2024, que mostram que, na faixa etária de 15 a 24 anos, Angola tem cerca de 7,9 milhões de jovens. Desses, aproximadamente 5,9 milhões sabem ler, o que significa que cerca de 2 milhões são analfabetos (851,5 mil homens e 1,1 milhão, mulheres). Além disso, há cerca de 4,5 milhões de crianças entre os 5 e os 18 anos que estão fora do sistema de ensino.
Segundo o economista Sérgio Calundungo, o número de crianças fora da escola indica que o País está a “entrar no campo do desenvolvimento com apenas uma parte dos seus melhores recursos: as pessoas, sem as quais não é possível falar em desenvolvimento e crescimento económico. A fraqueza dos nossos recursos humanos sinaliza claramente o fracasso das políticas na formação de quadros, que transversal à educação formal”.
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