Micaela da Conceição, conhecida como Kasova, faleceu vítima de fome na última segunda-feira, 23 de Junho de 2025, no Hospital Central do Bié (HGB). Natural de Katabola, a mulher de 45 anos vivia em extrema vulnerabilidade no Bairro Embala, à leste da Igreja IESA, numa habitação improvisada. O seu funeral realizou-se nesta quarta-feira, 25 de Junho, no Cemitério Municipal do Kwitu, com assistência mínima e marcada por consternação.
Deixou um único filho de 16 anos, Chinda, fruto de uma relação com o actual comandante da Polícia Nacional da Comuna de Tulumba/Trumba, no mesmo município.
O jovem, visivelmente abalado durante o enterro, revelou que, apesar de estudar, sustentava-se em conjunto com a mãe, ambos sobrevivendo com dificuldades extremas. Segundo moradores e familiares, a situação de fome era “conhecida, mas ignorada”.
De forma controversa, o pai de Chinda só disponibilizou 50 mil kwanzas após a morte de Kasova — valor utilizado para comprar a urna funerária. “Se tivesse dado antes, talvez salvasse a vida da minha mãe”, lamentou o jovem.
A tragédia comoveu a pequena comunidade do Kwitu e reacendeu o debate sobre a insegurança alimentar crescente em Angola, onde casos de mortes por fome continuam a ser reportados em zonas rurais e periféricas.
A sobrinha da vítima, Suzana, vinda da província do Huambo, confirmou que a causa da morte apontada foi fome severa, corroborada por testemunhos de amigos e vizinhos.
Dois irmãos da falecida, vindos de Luanda, chegaram apenas após o enterro, o que agravou a dor da perda — segundo familiares, eles não prestaram apoio financeiro anteriormente, apesar de manterem contacto esporádico.
O caso de Kasova, apesar de isolado, levanta preocupações maiores sobre a eficácia das redes de proteção social, o abandono das mulheres chefes de família e a ausência de políticas públicas de emergência alimentar.
A indignação dos moradores e de quem acompanhou o óbito ecoa como um grito de socorro: “As pessoas estão a morrer de fome em Angola”, disse um dos presentes.
Club-K