“Temos uma banca que enriquece com taxas e comissões completamente absurdas”

Não entende a razão pela qual as instituições bancárias tratam “muito mal os clientes, considera “inadmissível que os bancos “olhem mais para a mais poupanças dos clientes e menos para os clientes”. O presidente da Associação de Defesa do Consumidor de Produto e Serviço Bancário (Acosbanc), Nelson Prata Marcos, mostra-se avesso as taxas e comissões aplicadas, observa que as instituições querem aumentar os lucros com estas medidas não se importando que contribuem para o empobrecimento das famílias angolanas. Ao mesmo tempo, identifica um contrassenso na inclusão financeira perante o aumento do valor mínimo para abertura de contas bancárias.

O mercado financeiro vai tendo, por um lado, mais consumidores, por outro, é muito contestado nos últimos tempos. O que a associação tem recebido concretamente dos clientes?

De modo geral, quanto à maior concentração de reclamações que nós temos estado a receber ou recebemos ao longo destes anos de existência, tem exactamente a ver com a falta de informação, que os bancos, regra geral, deixam muito a desejar porque nunca passam a informação no tempo previsto, ou pelo menos quando é dada alguma informação é, de certa forma. Insu-ficiente, de acordo com a necessi-dade dos clientes. Tem exactamente a ver também com o elevado nível da falha do atendimento. A ver-dade é que aquilo que é o papel ou a autoridade da banca ainda deixa muito a desejar. Só para terem noção, grande parte da informação ou reclamações estão também liga-das à falta de acesso ao crédito. Os nossos clientes, infelizmente, não têm um acesso facilitado ao cré-dito bancário.

Os bancos têm critérios para con-ceder crédito…

Embora os bancos comerciais tenham definido um conjunto de regras ou condições para que um determi-nado cliente tenha acesso ao crédito bancário, ainda assim preferencial-mente preferem, não conceder o cré-dito e buscar outros ganhos do ponto de vista daquilo que é a actividade da banca e esses outros ganhos vão desembocar no aumento de taxas de comissões de serviços. Ou seja, aquilo que é a actividade principal dos bancos, reside exactamente no recebimento do dinheiro do público e em transformar este depósito em crédito bancário, aqui o rácio de transformação que é quase obrigatório, resulta da lei. O que nós temos vindo assistir por parte dos bancos comerciais em Angola, é que isto não acontece. Só para se ter mais ou menos uma noção, a regra geral, o rácio de informação entre o depó-sito que os bancos recebem dos seus clientes e aquilo que é a transforma-ção deste depósito em crédito monetário, devia andar aí à volta de60%. Ou seja, em cada 100 kwanzas que os bancos recebem a título do depó-sito bancário, os bancos deviam con-ceder 60 kwanzas a crédito, quer ao consumo, quer ao crédito ao investimento, mas a verdade é que isto não acontece.

Não acontece porquê? Não acontece porque, infelizmente, também devemos reconhecer que durante longo período nós fomos acompanhandoosistema financeiro e actividade bancária e que se viu a braços com um problema que era o elevado nível do crédito malparado. Por isso é que durante o período, sen-sivelmente, de 2014 até 2022 e 2023, quase que os bancos não conœdiam crédito. Porque tinham que, obvia-mente, expurgar este problema que era do crédito malparado. Também decorrente da falta deliteracia financeira…

Vamos olhar primeiro para aspec-tos de natureza cultural, porque infe-lizmente os clientes bancários ainda não tinham cultura de receber um crédito e terem de pagar no tempo acordado Era necessário também os bancos trabalharem nesse aspecto do ponto de vista cultural, do ponto de vista do comprometimento, de modo que os clientes percebessem que, a partir do momento em que deixas-sem ou falhassem os seus créditos dos bancos, os bancos poderiam se retrair para voltar a conceder crédito. Esse é um trabalho que foi feito, quer pelo BNA e pelos bancos comerciais. Mas ainda assim, tinham outros clientes que eram pessoas cumpridoras, que cumpriam e continuam a cumprir. Mas o problema é que pelos clientes inadimplentes, os bons clientes tam-bém começaram a pagar, por isso é que os bancos depois deixaram de conceder crédito à economia, cré-dito ao consumo. Depois tivemos um segundo período que veio em 2023 até a data presente, onde, por uma intervenção profunda que foi feita a nível do BPC, que era o maior banco da nossa praça com um cré-dito malparado, por via da trans-ferência da sua carteira de crédito malparado para a Recredit e de um conjunto de acções ligadas ao saneamento do banco, se deixou de ter impacto negativo a nível da avaliação geral da banca

O crédito começa a crescer, aliás, um dos bancos recentemente imple-mentou o crédito ao consumo… Os bancos voltaram a conceder crédito, de 2023 a 2025 houve uma mudança de posição do funciona-mento por parte dos bancos, come-çaram a ser mais flexíveis do ponto de vista da concessão de crédito, quer ao consumo, quer ao investi-mento. Mas, embora tenha havi do estamelhoria substancial, averdade é que as reclamações continuam a existir. As redamações continuam a existir porque, infelizmente, os bancos comerciais angolanos não conseguir am ainda perceber que o seu maior activo são os seus clien-tes. E nós não podemos tratar mal o nosso maior ou melhor activo. Infelizmente, os bancos olham mais para mais poupança dos dientes e menos para os clientes. Echamamos mais uma vez a responsabilidade por parte dos bancos comerciais, para se calhar, trazer um pouqui-nho mais de humanização daquilo que é a relação entre os bancos e os seus dientes. Não existe um banco sem cliente. Não faznenhum sen-tido e é inadmissível que os bancos tratem muito mal os seus clien-tes, que são os seus clientes acti-vos, por um lado. Por outro lado, também olhando exatamente para a falta de conhecimento, formação por parte dos funcionários bancá-rios. Aliás, por isso mesmo é que o BNA, há cerca de quatro ou cinco anos, instouos bancosno sentido de apostarem de formaconsolidadana formação dos profissionais bancá-rios. Porque nós sentimos que existia alguma falta de compromisso ver-sus profissionalismo por parte dos funcionários bancários. Continuaa exi stir, houve alguma melhoria, mas a verdade é que os serviços presta-dos pelos bancos ainda continuam a deixar muito a desejar.

Essa questão, por exemplo, de os bancos estarem reticentes na dis-ponibilização de crédito aos clien-tes, não tem a ver também com o tipo de cliente que existe maiori-tariamente na banca, que são da classe baixa e o negócio atrativo da banca, nesta altura, serem os títu-los da dívida pública?

Eu percebo a questão que me está a colocar, mas cada vezmaisnósfala-mos danecessidade de haver inclu-são. E um processo indusivo, não se faz deixando de parte aquelas famílias que não têm rendimento ou aquelas famílias que têmrendi-mento extremamente baixos. E a qui a inclusão financeira devia passar exactamente pelo acesso dos ser-viços e produtos bancários, para aquelas famílias que vêm de uma situação bem mais frágil doponto de vista social, é importante que, quer o Banco Central, quer osban-coscomerciais, olhem também para essas famílias, para essas pessoas que estão, de certaforma, excluídas do sistem a financeiro. Por outrolado, verdade é que este processo de inclu-sãojá vem sendo feito desde 2010 a 2011 por via da criação do produto ou da possibilidade dessas famílias poderem abrir em conta bancária com 100 kwanzas, o produto ocha-mado Bankita. Este processo não deviaparar por aí. Eraimportante que essas pessoas, uma veztendo sido permitido abrir uma conta bancária, que também pudessem ter acesso aocrédito facilitado com uma taxa de juros bonificada para que pudessem trazer outras ferra-mentas para dentro daquilo que é a situação social e económica des-sas famílias, de um modo a pode-rem financiar um conjunto de serviços e negócios próprios, para poderem sair de uma situação de extrema pobreza para uma situação bem melhor.

Só se pensa na inclusão numa ver-tente de bancarização?

Não é possível só pensar naindu-são do ponto de vista de permitir que essas pessoas tenham acesso a uma conta bancária Eraimpor-tante que também pudessem ter acesso ao crédito bancário. Por isso, é que nós vamos encontrar um conjunto de medidas que o Banco Central com algum suporte do pró-prio govemo para que essas famí-lias pudessem ter acesso também ao crédito, de outro modo não se pode falar em indusão financeira sem que as famílias tenham efeti-vamente acesso ao crédito.

O que é que nós queremos efectivamente? Incluir, se estão fora do sistema, ou criar muros para que as pessoas não tenham acesso ao sistema financeiro?

Alguns bancos aumentaram o valor de abertura das contas bancárias. Não é um contrassenso quando está em processo de auscultação a estratégia nacional de inclusão financeira?

É um contrassenso. Quando nós temos um plano para o aumento do nível, do ponto de vista percen-tual, de bancarização da população angolana quer de uma política que vise a formalização da actividade económica, deixar de ser informal passando para um processo de for-mali zação, e aqui passaexactamente pelo acesso aos serviços e produtos bancários. No sentido contrário, nós vemos alguns bancos aumenta-rem o valor mínimo para abertura de conta bancária Portanto, se nós aindaidentificanos mais de 60% da população que não tem uma conta bancária e no sentido contrário, os bancos-não todos, vão aumentando todos os anos o valor mínimo para a abertura de conta. O que é que nós queremos efectivamente? Induir, se estão for a do sistema, oucriarmuros para que as pessoas não tenham acesso ao sistema financeiro?

Eoqueacha?

Nós não podemos pedir para que as pessoas cheguem anós e depois construirmos um muro que nos dê parte destas mesmas pessoas. A indusão precisa deixar cair o muro.

Re cor do-me de uma entrevista que o ex-governador do Banco Nacional deunum órgão de comunicação, em que disse que os clientes bancários não têm acesso às divisas porque o homem de fato e gravata dos bancos lhes assustavam e eles preferiam ir ao Mártires, porque era o mercado informal. A verdade é que os ban-cos, como estão pensados e como funcionam, par a quem não tem ins-trução, para quem nunca teve uma contabancária para quemnão tem rendimento, é extremamente assus-tador. Mesmopara aquelas famílias que têm alguns rendimentos, é olhar-mos para as senhoras que vendemnos mercados informais. Dizer que ela tem a possibilidade de colocar todo o dinheiro que recebe, a título de venda por dia, colocar num banco e depois elavai poder ter acesso ao dinheiro, esta ideia já chega a ser assustadora para a senhora que tem rendimen-tos. Penso que, quer o bancocentral, quer os comerciais, devem, natur al-mente, deixar os fatose as gravatas e irem comunicar comessas pessoas, irem comunicar com as pessoas que estão, de certa forma, excluídas, apar-tadas do sistema financeir obancário.

Já chegou a falar com a congénere Abanc ou com o regulador sobre esta questão do aumento do valor mínimo de abertura de contas?

Nós não chegámos ainda afalar com a Abanc, masé uma associação que nós temos identificado e naprimeira oportunidade que nós tivermos para sentarmoscomo BNA vamosrepor-tar esta situação. To dos anos elabora-mos um relatório onde identificamos umconjunto de situaçõese o aumento substancial do valor mínimo é exa-tamente uma das situações quenós identificámos.

Qualéo valor mínimo que no enten-der da associação devia ser mínimo para a abertura de conta bancária? Apesar de os bancos terem o pro-duto Bankita.

Se os bancos comerciais definiramhá algum tempo com o Banco Central, ovalor de 100 kwanzas para abertura de uma conta bancária, olhando para oelemento que é daindusãofinan-ceira, a verdade é que se define um valor muito acima dos 100 kwanzas, tem bancos que o valor mínimo para abertura de uma conta é de 200mil kwanzas. Ou seja, o chefe de famí-lia tem de juntar quase três salários mínimos e não assumir nenhuma outra despesa durante esses meses parapoder ter condições para ocon-trato e ter uma conta bancária. O que nós queremos é indusão ou a exdu-são? Não é necessário que os bancos definamvalores tão avultados para abertura de conta quando o diente tem a seguir acesso a este dinheiro. De modo a facilitar a entrada de novos clientes no sistema, é prefe-rível definir valores consideravel-mente baixos, estamos a falar de 15, 20, 30 mil kwanzas, de modo a que mais pessoas se sintam con-vidadas a entrarem para o sistema financeiro. Etambém bem verdade que a banca é feita por segmentação. Existem vários segmentos anível da actividade bancária, mas olhar para os diferentes segmentos que existem, de acordo com a actividade bancá-ria, a definição desses segmentos não pode servir como elemento de exclusão ou de proibição para que outras pessoas possam aderir ao sistema bancário. Não é o caminho mais acertado o que os bancos têm estado a percorrer Alguns bancoscomeçamaaumen-tar as taxas dos serviços, nas redes sociais surgem, inclusive, campa-nhas de boicote por estesaumentos. Como é que olha para esta medida?

Infelizmente em Angola tem vindo tornar-se cadavezmais carotermos acesso aonosso próprio dinheiro. E não pode ser. Eunão possotodos os meses, anos, pensar duas vezes em meter o meu dinheiro no banco ou colocar o meu dinheiro debaixo do colchão. A verdade é que a elevada taxa que os bancos tém estado a cobrar, tem estado a encarecer o acesso ao dinheiro. E quando falo aqui do acesso ao dinheiro, não estou a falar do acesso ao dinheiro que é conseguido por via de um crédito. Estou a falar do acesso ao dinheiro que o banco estánuma condição de devedor e nós, enquanto clientes, estamos numa condição de credo-res. Porque é importante dizer que quando nós, dientes, colocamos o nosso dinheiro, depositamos o nosso dinheiro nos bancos comerciais, os bancos assumem aposição de deve-dores. Estamos a falar nos termos bancários, deuma operaçãobancária passiva. Enãonos parece nadabem que, no ámbito de uma relação ban-cária passiva, em que os bancosestão naposição de deve dores, tendem a não resistir à tentação de aumentar cada vezmais as taxas e comissões. Eessa questão é um movimento que jáfoi ocorrendo quer anível dos paí-ses do Ocidentee dos Estados Unidos da América, e em Portugal, temos vindo acompanhar todos os anos os bancos portugueses, fazendo uma análise comparativa. Os bancos portugueses vão buscar mais lucros em cobranças de taxas e comissões do que propriamente do retomo que recebem por via dacomissão decré-dito. A verdade é que em Angola os bancos também estão a enveredar pelo mesmo caminho.

Só pensam no lucro?

Temos uma banca que olha para o cliente como umafonte de enrique-cimento por via da aplicação de taxas e comissões, aomeu ver, completa-mente absurdas. Penso que os bancos estão afugir dasuaresponsabilidade social e económica. Têm estado a empobrecer ca da vezmais as farnílias angolanas, os clientes bancários. Não se pode olhar para a relação entre o banco e os seus dientes como uma relação em que uma das partesestá manifestamente em desvantagem. E os clientes estão exatamente a ser relegados parauma situação de desvantagem narelação que nós vamos mantendo com os nossos bancos.

Mesmo que do outrolado estejaum banco que não é nosso credor, mas é onosso devedor, por que nós colo-camos lá o nosso dinheiro, a título de fiel depositário. E os bancos têm de repensar se têmestado a fazer as escolhascertas, quando vão aumen-tando, e acredito que isto deve o cor-rer por via de uma concentração, que passa pela Abanc, e este repto vai para a Abanc para repensar o que a banca quer para Angola. Se é uma banca que é de exploração, porque aqui o termo que me vem à cabeça é uma permanente explora-ção dos dientes, porque os bancos não podem simplesmente definir as taxas e comissões sem pensar no mal que têm estado a fazer as famí-lias angolanas, sem pensar noindi-vidual. A verdade é que nós temos vindo a acompanhar este movi-mento anível dabanca comercial. É aumento diário de taxasecomissões.

Os aumentos não têm ligação, às vezes, com o crescimento das des-pesas dos serviços? Eupercebo que poderá ter aí uma causa e efeito que é a necessidade dos bancos de poderem fazer face às despesas operacionais que este-jam ligadas ao funcionamento. Mas estas despesas operacionais que os bancos têm necessidade de supor-tar, não têm de ser assumidas pelos dientes, tem de ser dividida entre as aldeias. Dou-lhe exemplo, muito recentemente, a AGT criouumnovo imposto, o CEOC (Contribuição Especial sobre Operações Cambiais). Saomais de 5 a 10% que foram colo-cados em cima dos clientes. Osban-cos estão a cobrar comissões, que eram comissões para emissão de extrato, além das despesas anuais que os clientes pagam. Portanto, nós, actualmente ligados à atividade bancária, os clientes estão a braços com cerca de quatro, cincotipos de comissões diferentes.

E muito…

São muitas comissões. Está extre-mamente caro termos acesso ao nosso próprio dinheiro. Dinhei-ros que já foram trabalhados, con-seguidos com bastante sacrificio por parte dos dientes, o que dá o que pensar se realmente vale a pena continuar a guardar o dinheiro no banco. Não é isso que se quer, mas é importante que os bancos tivessem esta noção. Só para os dientes não começarem a fugir dos depósitos e irem por outras vias que não acon-selhamos, mas que poderão depois colocar em causatambém aprópria solidez do sistema financeiroe acti-vidade bancária.

Estes bancos também contribuem para o sufoco económico das famí-lias?

Prefiro acreditar que esses bancos não resistiram a esta tentação, fal-tou-lhes bom senso. Euprefiro acre-ditar que as despesas ou os custos operacionais são de tal modo pesa-dos para os bancos comerciais, que eles não têm não viram outra solu-ção se não aplicar ourepassar estas despesas, estes custos para os dien-tes. Mas, é a questão da sensibilidade, de bom senso para que os bancos olhassem para as condições sociais eeconómicas que os angolanos têm estado a viver nos últimos três anos. Eessaresponsabilidade sociale eco-nómica dos bancos deveria ser chamada ao de cima para que fosse feito um conjunto de ponderações antes de definirem ou alterarem o preçário.

A associação já tentou conversar com esses bancos?

Depois faremos chegar o nosso rela-tório de actividade anual, quer à Abanc quer ao BNA, para que pos-samos, mais uma vez, manifestar na nossa real preocupação quanto ao que está a acontecer e pedir que haja um encontro, quer com a Abanc, enquanto representantes de bancos, e com o BNA, para que possamos dis-cutir essas questões que têm estado a fustigar, de certa forma, os nossos associados e os clientes bancários.

Em 2022, o vice-presidente da asso-ciação referiu que uma das questões mais reclamadasporparte dosclien-tes é a movimentação indevida nas contas bancárias. Este cenário per-siste? Quais são as maiores reclama-ções, segundo o relatório de 2024? A questão da movimentação inde-vida é uma delas, temos outras, como a amorosidade para que os clientes possam ter informação para uma boa decisão quanto à solicitação de cré-dito. Temos outra reclamação, que também das maiores reclamações que nós recebemos por parte dos clientes bancários, têm a ver com o facto da quebra do sigilo bancário, ainda nos debatemos diariamente com questões ligadas à quebra do sigilo bancário, informações que são prestadas sem o menor rigor e res-peito à lei. Temos também questões ligadas ao bloqueio de contas bancá-rias, sem respeitarem os limites que resultam da lei do regime geral das instituições financeiras. Continuam entre as cinco maiores reclamações, a questão da movimentação inde-vida é das que mais nos preocupam.

Como é que tem sido o desfecho destes processos?

A regra geral, neste tipo de processo, primeiro é que além de configu-rar um crime, o banco é chamado, enquanto fiel depositário, porque existe uma relação entre os bancos e os seus funcionários, e quando existem movimentações indevidas na conta a bancária é porque tem alguma pessoa física, que é o fun-cionário dobanco, que acaba exata-mente dando corpo a esta situação. E aqui, existem três processos de natureza completamente diferen-tes, estamos a falar de um processo de autorização jurídico-laboral, que é na relação do contrato de trabalho entre o banco e aquele funcionário, que regra geral do banco, por via da direção do departamento de audi-toria, investiga e depois culmina com o despedimento do funcionário bancário, quando fica aprovado.

Depois, do ponto de vista civil, se vê no dever do banco de restituir o dinheiro que foi retirado indevida-mente da conta do cliente. Edepois, do ponto de vista criminal, isso acaba despoletando sempre por uma res-ponsabilização. A verdade é que tão logo o saldo é restituído, os clien-tes tendem a deixar o processo cor-rer e não têm qualquer intervenção aos outros dois processos também, ou aos dois processos de naturezas diferentes que ocorrem em simultâ-neo. Mas tivemos algumas situações em que os bancos simplesmente dis-seram que não era da sua responsa-bilidade, aí sim nós tivemos de seguir com o processo para a fase criminal, de modo que as pessoas visadas no processo pudessem ser responsabi-lizadas. Mas é excepção de regra. A regra é os bancos assumirem essa responsabilidade e restituírem o dinheiro que foi retirado da conta.

Tem sido processos imediatos ou há morosidade?

Não são imediatos por uma razão muito simples. Primeiro é que é aberto um processo de investiga-ção internamente, dos bancos, esó depois de culminar esse processo investigativo e se apurar a respon-sabilidade do funcionário é que os bancos tendem a falar. Estamos a dizer de nunca menos de 45 dias.

E como é que tem sido a relação com a banca?

Osbancos ainda olham para a asso-ciação com alguma desconfiança. Não tem sido fácil. Nós quando assu-mimos este compromisso, disemos logo que estávamos a começar um caminho que não tinha volta e nós vamos seguir com o que nos com-prometemos a fazer há cerca de oito anos, e vamos exatamente continuar a bater na mesma tecla, a fazer a dife-rença em prol da tutela dos clientes bancários.

Porqué a falta de confiança?

Na verdade, olham-nos com descon-fiança. Portanto, é como se tivesse a Acosbanc para obrigar a assumir um conjunto de responsabilidades que, outrora, não tinham de assu-mir. Eu dou um exemplo, durante muito tempo, nós chamamos a res-ponsabilidade dos bancos quanto à questão das fraudes que ocorriam com cartões de débito. Os bancos foram peremptórios a afirmar que não havia abordagem de cartões. Os bancos sempre asseguraram que em Angola não havia clonagem de car-tões. Porque os bancos sabiam que Uma outra questão que constitui desrespeito a os consumidores, são as enchentes nos ATMs…

Isto é o prato do dia-a-dia, infeliz-mente, as longas filas dos ATMs têm sido o grande calcanhar por parte dos bancos. Embora com o surgi-mento dos centros de ATMs que foram sendo proliferados pelas prin-cipais artérias da cidade de Luanda, a verdade é que não basta instalar ATMs antes, é necessário que sejam devidamente assistidos do ponto de vista de carregamento e manuten-ção. É completamente inglório o esforço que os bancos fizeram em instalar ATMsnas diferentes artérias da cidade, quando esses ATMs não são carregados, quandoesses ATMs não recebem manutenções perió-dicas. Por isso nós continuamos a verificar grandes concentrações de pessoas em períodos específicos, vésperas de feriado, final de semana e principalmente no final de cada mês. Depois temos um período que é particularmente absurdo, da qua-dra festiva. Os anos vão passando e os clientes bancários continuam a ter os mesmos problemas de res-peito à facilidade para terem acesso ao seu dinheiro.

A não admissão não resultou na responsabilização dos bancos… Aí está, a questão é que, não podiam adimitir, porque sabiam que nós, enquanto Associação, seríamos mais contundentes a exigir que os bancos assumissem efectivamente os prejuízos que os clientes estavam a ter por via da clonagem dos cartões. Não é que não confiem no trabalho que está hoje a Acosbanc tentando fazer, não facilitam o trabalho por-que não querem assumir o conjunto deresponsabilidades.

Uma outra questão que constitui desrespeito a os consumidores, são as enchentes nos ATMs…

Isto é o prato do dia-a-dia, infeliz-mente, as longas filas dos ATMs têm sido o grande calcanhar por parte dos bancos. Embora com o surgi-mento dos centros de ATMs que foram sendo proliferados pelas prin-cipais artérias da cidade de Luanda, a verdade é que não basta instalar ATMs antes, é necessário que sejam devidamente assistidos do ponto de vista de carregamento e manuten-ção. É completamente inglório o esforço que os bancos fizeram em instalar ATMsnas diferentes artérias da cidade, quando esses ATMs não são carregados, quandoesses ATMs não recebem manutenções perió-dicas. Por isso nós continuamos a verificar grandes concentrações de pessoas em períodos específicos, vésperas de feriado, final de semana e principalmente no final de cada mês. Depois temos um período que é particularmente absurdo, da qua-dra festiva. Os anos vão passando e os clientes bancários continuam a ter os mesmos problemas de res-peito à facilidade para terem acesso ao seu dinheiro.

Quantas reclamações recebeu e foram resolvidas no ano passado?

Em 2024 nós tivemos cerca de 914 reclamações. Foram atendidas cerca de 380, comparativamente ao período homólogo houve um aumento na ordem dos 14,5%.

Foram atendidas apenas menos de 50% das reclamações. Porquê?

Das que não foram resolvidas, não foram resolvidas por apatia dos ban-cos comerciais. Os bancos nemsem-pre estão tão receptivos à abordagem feita pela Acosbanc.

Está a decorrer o processo de aus-cultação da estratégia nacional de inclusão financeira. Estão a par-ticipar?
Estamos.

Qual é a opinião da Associação?

O plano é ambicioso, mas poderia ser um pouquinho mais ambicioso, porque nós temos uma popula-ção jovem, temos um país que é extremamente virgem, temos uma actividade formal que é bastante considerável e nós podemos defi-nir outras metas bem mais ambiciosas. Bem mais ambiciosas, pese embora, nós não possamos dei-xar de olhar para os sinais que foram sendo alcançados nos últi-mos 15 anos.

” Em cada 100 kwanzas que os bancos recebem a título do depósito bancário, os bancos deviam conceder 60 kwanzas a crédito, quer ao consumo, quer ao crédito ao investimento, mas a verdade é que isto não acontece.”

Não é necessário que os bancos definam valores tão avultados para abertura de conta quando o cliente tem a seguir acesso a este dinheiro.

” Não é possível só pensar na inclusão do ponto de vista de permitir que essas pessoas tenham acesso a uma conta bancária. Era importante que também pudessem ter acesso ao crédito bancário. ”

Perfil

Um homem do Direito Bancário

Licenciou-se em Direito pela Universidade Lusófona de Lisboa.

Especializado em Banca Seguros e Mercados Financeiro, e mestre em Ciências Jurídico Empresarial.

Participou no processo constitutivo do Banco Valor, enquanto advogado estagiário, teve passagem como técnico do departamento de opera-ções do banco Millennium e técni-co do departamento de compliance do BNI. É chefe do departamento de contratação da direcção jurídica e de contencioso do BPC, além de assessor do conselho de Administração da SAFIRA SDVM. Também é professor universitário.

Valor Económico

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