O maior partido na oposição em Angola, a UNITA, voltou a suspender dois dos seus militantes, bastante influentes no mosaico político angolano, por terem tecido críticas ao partido nas redes sociais.
O acto ocorre poucos dias depois de o seu principal adversário, o MPLA, ter expulsado Waldir Cônigo por alegadas práticas de indisciplina interna.
O primeiro visado é Domingos Eduardo Palanga, deputado, sindicalista e mandatário do candidato Rafael Massanga Savimbi em Luanda. A estrutura disciplinar acusa-o de ter concedido uma entrevista amplamente difundida nas redes sociais, que o partido considera atentatória à honra de dirigentes e prejudicial à imagem da organização. A suspensão, segundo o órgão, visa permitir que Palanga seja ouvido em sede própria e preste esclarecimentos sobre declarações que, no entender da direção da UNITA, ultrapassaram os limites da crítica interna e configuram uma quebra de lealdade partidária.
A decisão não surge isolada. Na mesma deliberação, o Conselho Nacional de Jurisdição e Auditoria, órgão de justiça daquele partido, suspendeu também António Marques, antigo candidato à Secretário da JURA e apoiante de Massanga. Marques é acusado de violação da ética partidária e de divulgar nas redes sociais críticas consideradas “graves” contra a direcção, expondo assuntos internos num momento que a UNITA, considera politicamente delicado. As acusações incluem comportamentos que, segundo a interpretação oficial, ferem os estatutos e a disciplina que a UNITA exige aos seus quadros.
As duas suspensões ocorrem quando o partido se prepara para disputar uma liderança marcada por diferentes sensibilidades, disputas estratégicas e leituras distintas sobre o rumo da organização. Nesta fase pré-congressual, a direcção procura transmitir a imagem de unidade e rigor, embora as decisões disciplinares evidenciem disputas internas mais profundas. Para analistas, a reacção do partido demonstra a tentativa de controlar o discurso público, evitar ruídos que fragilizem a sua posição política e impedir que divergências internas ganhem dimensão externa.
Entretanto, recentemente, Domingos Eduardo Palanga em declarações à O Decreto, sublinhou a necessidade de se olhar para ideias e programas, e não para pessoas, no processo de escolha do futuro líder. Palanga apelou a um “comportamento responsável, equilibrado e patriótico-militante”, advertindo que os angolanos depositam expectativas na UNITA como instrumento de resgate da dignidade das populações. No excerto mais citado, afirmou que o partido não se pode transformar em algo diferente do que foi idealizado por Jonas Savimbi e que “não se deve brincar com política”. A seu ver, o processo de escolha interna deve ser guiado por escrutínio sério das propostas, privilegiando quem apresentar as melhores ideias.
Com o Congresso à porta, as expulsões na UNITA ganham maior relevância. Aquele partido enfrenta o desafio de conciliar pluralidade interna com unidade estratégica num momento em que se posiciona como alternativa política nacional. A decisão de suspender militantes por declarações públicas pode, por um lado, reforçar o autoritarismo das autoridades governamental, e, por outro, gerar fricções, alimentar discursos de intolerância interna e projectar uma imagem de falta de diálogo naquele partido.
O Decreto
