A recente atribuição de um prémio de liderança ao presidente do Conselho de Administração do Banco Angolano de Investimento (BAI), Luís Filipe Rodrigues Lélis, tem gerado forte controvérsia e debate público, sobretudo num momento em que o gestor enfrenta uma série de questionamentos relacionados à sua atuação à frente do maior banco privado de Angola.
Apesar do discurso oficial destacar modernização, crescimento e solidez da instituição, críticos apontam que persistem dúvidas importantes sobre práticas de gestão, transparência e critérios utilizados por instituições que concedem distinções deste tipo.
Críticas à Gestão e às Instituições que Concedem Prémios
Diversas vozes têm contestado o mérito da distinção, questionando:
A falta de esclarecimentos sobre o polémico empréstimo concedido ao empresário eritreu Isayas Desale Berhe, situação que actualmente está sob investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR).
O papel dominante do BAI na compra de Obrigações do Tesouro (OTs) emitidas pelo Ministério das Finanças, prática vista por alguns analistas como um favorecimento concentrado.
A alegada dificuldade dos empresários nacionais em aceder a crédito, especialmente em comparação com financiamentos volumosos concedidos a investidores estrangeiros ou recém-instalados no país.
Para vários observadores, estas questões fragilizam a credibilidade das entidades que atribuem distinções, num país onde a confiança no sector financeiro ainda enfrenta desafios profundos.
O Escândalo do Empréstimo a Kaheel Farming Services
A polémica intensificou-se após a revelação de um processo da PGR envolvendo o financiamento de aproximadamente 13 milhões de dólares à empresa Kaheel Farming Services Angola, pertencente ao empresário Isayas Desale Berhe, nacionalizado na Antígua e Barbuda.
Linha do Tempo do Caso
Julho de 2025:
A PGR notifica formalmente o BAI, exigindo em 72 horas toda a documentação que fundamentou a concessão do empréstimo.
Processo nº 38372/2025-LDA
Expediente nº 6404-2025-DCCO
Denúncia Pública:
O portal Na Mira do Crime torna público o caso, revelando que os fundos do empréstimo — oficialmente destinados a um projecto agrícola — foram rapidamente pulverizados para diversas contas bancárias, em várias instituições financeiras.
Movimentações Suspeitas:
Documentos citados pela mesma fonte indicam circulação de centenas de milhões de kwanzas através de contas associadas ao empresário, incluindo uma conta identificada com o IBAN 004000001064848710171.
Fuga do Empresário:
Após tornar-se arguido no processo, Isayas Desale Berhe deixou Angola rumo à Eritreia, segundo informações apuradas pelo Na Mira.
A PGR exigiu também os extractos bancários completos da empresa desde Janeiro até à data da notificação, para apurar eventuais irregularidades, branqueamento de capitais ou incumprimento das normas de compliance bancário.
Impacto na Imagem do Banco e do Premiado
A atribuição do prémio a Luís Lélis ocorre precisamente quando:
o caso Kaheel domina o debate público,
há críticas sobre práticas de concessão de crédito,
e existe uma crescente demanda social por transparência e responsabilização no sector financeiro.
Especialistas em reputação corporativa alertam que distinções atribuídas em períodos de forte escrutínio podem ter efeito inverso, ampliando a percepção de desconexão entre as instituições e as preocupações reais da sociedade.
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