Paulo de Carvalho alerta que o MPLA pode cair nas urnas

Está a ser amplamente difundido nas redes sociais um texto crítico das estratégias de governação do MPLA, cuja autoria tem sido atribuída a Paulo de Carvalho, sociólogo e deputado pelo Grupo Parlamentar do MPLA. Na referida análise sobre a situação social, política e económica do país, o autor argumenta que os protestos que resultaram em actos de vandalismo, pilhagem e mortes às mãos da polícia “não foram promovidos por partidos da oposição, mas sim pela insatisfação legítima de uma população exausta”.

Intitulado “Subsídios da Desgraça“, o texto não apresenta uma crítica inédita nem revela factos até então desconhecidos. Contudo, ganha especial relevância face à qualidade do seu alegado autor: Paulo de Carvalho é professor catedrático da Universidade Agostinho Neto e vice-presidente da 4.ª Comissão da Assembleia Nacional — a entidade parlamentar responsável por fiscalizar o cumprimento, por parte do Executivo e da Administração Pública, das leis e resoluções aprovadas pelo Parlamento.

No texto, que tem gerado polémica e dúvidas quanto à sua autenticidade, o articulista contraria a narrativa segundo a qual os tumultos ocorridos entre 28 e 30 de Julho teriam sido instigados por partidos da oposição ou activistas cívicos. Pelo contrário, sublinha que os protestos resultaram da “insatisfação legítima de uma população exausta de tantos anos de promessas vãs”.

O autor aponta ainda que “a ausência de escuta e a má comunicação são receitas seguras para o fracasso”.

Entre outras críticas, manifesta-se contra o aumento da tarifa do serviço de táxi, vulgarmente conhecido por candongueiro, para 300 kwanzas, considerando que tal subida não se justifica, uma vez que o preço da gasolina — combustível alegadamente utilizado por cerca de 30% dos taxistas — não sofreu qualquer alteração.

Critica igualmente o despesismo do Estado, as festas e o luxo de certos governantes, contrastando com a realidade de milhões de angolanos que vivem em pobreza extrema.

A Polícia Nacional também é visada. O autor insta os seus operacionais a “deixarem de agredir”, numa crítica directa ao uso da força pelas forças da ordem.

Importa referir que Paulo de Carvalho tem vindo a destacar-se nos últimos tempos por uma intervenção política com menor carga partidária. Em Outubro de 2024, por exemplo, durante o debate sobre a composição da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), em que a UNITA reclamava uma representação mais equilibrada, o académico reconheceu que, se estivesse na mesma posição, faria o mesmo tipo de exigência. Na altura, o maior partido da oposição tinha eleito 90 deputados, enquanto o MPLA viu a sua representação recuar de 150 para 124 deputados.

Mas será, afinal, verdade que o texto “Subsídios da Desgraça” é mesmo da autoria de Paulo de Carvalho?

A resposta é clara: sim. O próprio confirmou a autoria ao Polígrafo África, tendo esclarecido que a primeira versão do texto circulou com um erro, entretanto corrigido. Contudo, o conteúdo é autêntico.

Polígrafo África

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