Origem dos fundos para a aquisição de 500 táxis levanta dúvidas

O projeto da compra de 500 viaturas para o setor do transporte de passageiros foi apresentado semanas depois dagreve dos taxistas que paralisou Luanda e outras províncias, provocando caos na mobilidade.

Para muitos, a iniciativa procura reduzir o nível de contestação dos operadores de táxis. Outros questionam como Riquinho conseguiu os recursos para adquirir tantas viaturas, depois de, recentemente, se ter queixado de dificuldades financeiras.

Segundo a proposta apresentada, o empresário conhecido no setor do entretenimento prevê entregar 25 viaturas por semana, em regime de crédito, a motoristas de táxi. Estes passarão a pagar prestações mensais durante cinco anos, ao fim dos quais se tornarão proprietários dos veículos.

“O objetivo deste projeto é tornar os motoristas patrões, os cobradores motoristas e os lotadores cobradores. A ideia é pagar antes dos 10 anos; se forem oito ou sete anos, ficaremos muito confortáveis”, explica.

O empresário afirma que a iniciativa visa melhorar as condições de trabalho dos taxistas e, ao mesmo tempo, oferecer tarifas mais acessíveis à população. Os táxis cobrarão 250 kwanzas, abaixo do valor oficial de 300 kwanzas, que tem sido motivo de protestos.

O acesso às viaturas será reservado a cidadãos com cinco a dez anos de atividade como taxistas, devidamente inscritos em associações da classe e com quotas em dia.

Riquinho garantiu ainda que os carros já estão disponíveis no mercado e explica o processo: “Vai sair uma lista no jornal, com 25 carros por semana, para chegarmos à média de 100 por mês. As operadoras têm cerca de 100 carros já importados. Quer dizer que, nos próximos 60 dias, teremos aqui 400 viaturas”.

A iniciativa é bem recebida pelos taxistas, mas levanta dúvidas quanto à sua viabilidade. Adriano Cachitolo, diretor de intercâmbio e relações institucionais da Associação dos Motoristas Benquistos Associados Independentes de Angola (A-MBAIA), defende cautela.

“A iniciativa pode ser entendida como um apoio importante ao setor, mas deve-se analisar com cuidado a estrutura, a transparência e as condições de pagamento, para que realmente valorize o taxista, as organizações e a sociedade em geral”, alerta.

Já o ativista cívico Alexandre Bolívar suspeita de intenções políticas por trás do projeto encabecado por Riquinho: “É mais um projeto descartável para silenciar e controlar os taxistas num período em que há protestos contra os preços dos combustíveis e do transport

Para o ativista a iniciativa “vai enfraquecer momentaneamente as reivindicações, porque quem for beneficiado terá uma dívida moral com o empresário. Mas, a longo prazo, não resolve”.

Problema dos taxistas resolvido?

Bolívar acrescenta que a medida não responde ao caderno reivindicativo dos taxistas.

“Os problemas estão apresentados, mas em vez de darem soluções, preferem acalmar os ânimos oferecendo carros. Só que as viaturas não andam com água, andam com combustível e o preço do combustível vai continuar a subir. Tarde ou cedo, a situação volta a explodir”, alerta.

Estima-se que cada viatura da marca Toyota Hiace custe cerca de 35.200 euros. Assim, a aquisição de 500 unidades implicaria um investimento de 17,6 milhões de euros.

O montante também suscita dúvidas, sobretudo porque nos últimos anos o empresário Riquinho reclamou de dificuldades financeiras e até cobrou dívidas do Governo e do partido no poder, o MPLA, por serviços prestados pela sua empresa.

Em declarações à imprensa, o empresário rejeitou as suspeitas: “Há rumores de que os carros são do Governo. Se existisse essa frota, davam-me. Hoje seria a grande oportunidade, já que estou a fazer um ato importante. Mas não existe nada. Isso são apenas rumores”.

DW África

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