O lado escuro do banco Sol – Jorge Eurico

Luanda – Banco Sol é a casa bancária de confiança do MPLA. Uma espécie de “Casa da Mãe Joana” do partido no poder em Angola. É lá que o MPLA tem domiciliadas as suas contas e as dos seus funcionários. O partido põe e dispõe. Mais do que isso: Sabe tudo o que por lá (não) acontece. Pois bem: o Banco Sol acaba de encerrar 39 balcões em diversas províncias do país, ao abrigo de um Plano de Recapitalização e Reestruturação (PRR) aprovado pelo Banco Nacional de Angola (BNA). O MPLA já sabia. Mas está-se nas tintas!

O Conselho de Administração do Banco Sol fechou balcões, mas abriu feridas. Profundas e dolorosas. Resultado? Empregos perdidos. Famílias afetadas. Sonhos suspensos e contas por pagar. Um corte brutal no capital humano. Um golpe profundo na dignidade de inúmeras famílias angolanas. Mais uma ferida aberta na já ensanguentada chaga social e económica do país, onde desde 2017 o cidadão ordinário só faz uma refeição por dia e a emergente classe média foi aniquilada com sucesso pelos senhores que “compram prestígio” e “vendem influência para serem considerados gente”. Um drama alarmante. O exército de desempregados angolano agradece. O MPLA (já) sabe. Mas está-se nas tintas.

O argumento apresentado pelo Conselho de Administração do Banco Sol para mandar para o “olho da rua” centenas de chefes de família foi assegurar a “sustentabilidade, viabilidade, competitividade e continuidade do negócio”. Até aqui, tudo bem. É apenas o lado escuro do Banco Sol. Mas a questão é a seguinte: E a continuidade das vidas dos trabalhadores agora dispensados, depois de anos a dar o corpo ao manifesto para que o banco chegasse onde chegou? O MPLA conhece bem a resposta. Mas está-se nas tintas!

A necessidade de ajustar modelos de negócio num sector financeiro em crise é legítima. Ninguém contesta. Mas quem cuida das consequências humanas desses ajustamentos? Quem responde pelos lares agora mergulhados na incerteza e no desespero?
O MPLA sabe. Mas continua-se a estar nas tintas!

O Conselho de Administração do Banco Sol, no seu comunicado, lamenta e reconhece que cada despedimento representa “uma história, uma presença e um contributo”. Um gesto bonito. No papel. Mas, na vida real, o lamento não paga renda. Não enche panelas. Não consola o pai desempregado que já não sabe como garantir o sustento dos seus. O respeito institucional é louvável. Mas a dignidade de quem serviu a instituição durante anos exige mais do que palavras doces e cartas formais. O MPLA também sabe disso. Mas está-se nas tintas!

Perante o drama de centenas de trabalhadores atirados ao desemprego por decisão do Conselho de Administração do Banco Sol, o MPLA permanece indiferente, como se o problema não lhe dissesse respeito. Mas quando o poder vira o rosto ao cidadão-eleitor, deixa de ser poder. Passa a ser apenas regime à margem do cidadão-eleitor. Um regime pintado com as tintas da indiferença pelo cidadão-eleitor que padece e desespera.

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