Luanda – O MPLA, partido no poder em Angola, gastou cerca de 1,26 mil milhões de kwanzas em 2024 para reforçar a imagem do seu líder, o Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço. Este montante representa aproximadamente 39,4% do financiamento público anual que o partido recebe do Estado angolano, uma subvenção calculada com base nos resultados das eleições de 2022.
1,26 BILHÕES DE KWANZAS PARA IMAGEM DE JL
Campanhas e atividades do gabinete para a Cidadania
Uma parte significativa do orçamento, 560 milhões de kwanzas, foi gerida pelo Gabinete para a Cidadania e Sociedade Civil (GCSC). O programa, que visava melhorar a imagem do partido e de Lourenço, incluiu conferências e visitas a igrejas. O maior investimento foi nas “Jornadas Multidisciplinares da Cidadania”.
Em setembro de 2024, as Jornadas incluíram visitas a igrejas em Luanda, com um orçamento de 73,8 milhões de kwanzas. No mesmo mês, o projeto “Igreja Forte, Família Feliz” recebeu 13,5 milhões de kwanzas, com o objetivo de fortalecer a presença do partido e do líder junto às comunidades religiosas e civis. O GCSC justificou as ações como forma de promover a proximidade e o apoio social. Ao longo do ano, foram realizadas cerca de sete jornadas e mesas redondas.
Marchas de exaltação e mobilização partidária
Para além dos gastos do GCSC, as estruturas provinciais e distritais do MPLA gastaram cerca de 700 milhões de kwanzas em marchas de apoio a João Lourenço. Estas manifestações, que ocorreram em dezembro de 2024, serviram para exaltar o líder e contrariar as correntes internas que defendem um congresso com múltiplas candidaturas. Para cada um dos 18 distritos provinciais, foram distribuídos 18 milhões de kwanzas para a realização das marchas.
A soma dos 560 milhões de kwanzas do GCSC com os 700 milhões das estruturas provinciais totaliza o gasto de 1,26 mil milhões de kwanzas em atividades centradas na imagem do presidente.
Impacto político interno
À medida que se aproxima o congresso ordinário de 2026, pelo menos três nomes têm sido apontados como possíveis pré-candidatos à liderança do MPLA. Uma vez convocado o congresso, João Lourenço passará à condição formal de candidato, ficando legalmente impedido de mobilizar fundos do partido para sua autopromoção.
Analistas ouvidos em Luanda sublinham que o uso intensivo de recursos partidários para reforçar a imagem de João Lourenço pode levantar questões éticas, políticas e legais. Se os fundos forem utilizados de forma exclusiva em benefício de um único pré-candidato, isso poderá configurar favorecimento, abrir espaço para contestação interna e até para impugnações do congresso, já que os estatutos do MPLA exigem igualdade de condições entre concorrentes.
Mesmo sendo recursos provenientes do financiamento público ao partido, a aplicação quase exclusiva na autopromoção de João Lourenço pode ser vista como prática eticamente questionável e politicamente arriscada, sobretudo na ausência de mecanismos transparentes de prestação de contas.
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