Mexicanos instalam-se em concessão diamantífera na província da Lunda Norte

As famílias vindas do México para a região nordeste do País estão a viver nos terrenos controlados pela empresa angolana de produção de diamantes Mina Gema, onde já desmataram mais de 800 hectares.

Oito famílias de origem mexicana, num grupo com cerca de 60 pessoas, estão a viver desde 2023 numa área de mais de 800 hectares implantada em Cambanze, província da Lunda Norte, dentro de uma concessão diamantífera alegadamente pertencente à empresa Mina Gema, do general e empresário angolano Zeca Cassanguidi. A instalação destas famílias levanta questões legais e sociais sobre acesso à terra e imigração em Angola.

O grupo de menonitas – são assim conhecidos porque professam a religião (de origem crista) com o mesmo nome – partiu do México há quase um ano para estabelecer uma “colónia” na região nordeste de Angola, segundo uma reportagem do New York Times publicada na segunda-feira, 15 de Junho. A história, com pormenores diferentes, já tinha sido divulgada pela imprensa angolana (na TPA e jornal O País), mas agora chegou aos holofotes internacionais.

Os menonitas pretendiam abandonar o México devido à falta de terras e também por outras questões legais, sociais e ambientais, que têm aumentado a pressão e o escrutinio público sobre as comunidades que vivem de forma isolada.

A reportagem assinala que já existem tensões entre os menonitas e as comunidades angolanas. Para além do México, os menonitas estão espalhados por vários países, como Bolívia ou Paraguai.

No caso de Angola, devido a um acordo com a Mina Gema, esperam construir uma comunidade própria e convidar outras famílias menonitas para ali se instalarem. Segundo a reportagem, as empresas mineiras podem ter beneficios legais caso alarguem os seus investimentos a sectores fora da exploração de diamantes.

“No nosso contrato está escrito que, se encontrarmos um diamante, temos de nos sentar e ter uma reunião com a Mina Gema”, disse Benjamin Kauenhofen, o líder das famílias menonitas, ao New York Times.

O empresário Zeca Cassanguidi confirmou que aquelas famílias não estão autorizadas a invadir as terras agrícolas das aldeias vizinhas e que os salários dos trabalhadores angolanos vão aumentar à medida que as colheitas se transformem numa actividade bem-sucedida.

Outro representante da Mina Gema, Marcos de Oliveira Bacurau (de origem brasileira), defendeu que a região tem um “enorme potencial” para a agricultura. “As minas de diamantes não ocupam fisicamente muita terra, por isso a zona é um óptimo local para introduzir a agricultura”, disse Bacurau.

“Se eles nos tirarem a terra, não poderemos cultivar a nossa mandioca – e depois, o que vamos comer?”, questionou Charlotte Itala, que ganha 2,50 dólares (2.290 Kz) por cada jornada de sete horas de trabalho no campo dos menonitas. A camponesa angolana alega que aquele dinheiro não compensa a perda do terreno de caça da aldeia. “Estamos preocupados com o nosso futuro”, lamentou.

A ideia destas famílias se mudarem para Angola surgiu alegadamente em 2019, na Cidade do México, durante um evento agrícola onde esteve presente uma delegação angolana.
Mas a primeira tentativa, em 2023, terminou mal. Os menonitas chegaram apenas com vistos de turista, tiveram dificuldades em ultrapassar a burocracia angolana e foram deixados a viver em tendas, perdendo o dinheiro que tinham. Uma criança de 8 anos morreu de malária.

As oito famílias falam Plaut dietsch, um dialecto do alemão quase exclusivamente falado por menonitas. Mas as palavras em inglês são comuns e a maioria dos homens também sabe falar espanhol. Alguns já estão a aprender português, mas não se vêema converter angolanos ou a tentar integrá-los na sua comunidade. Em vez disso, esperam que outros menonitas das Américas se juntem a eles.

“Se os bolivianos não vierem, nós vamos chorar”, disse Juan Harder, um dos líderes do grupo de 60 pessoas. “Os miúdos vão crescer e com quem é que vão casar?”

Expansão

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