MAIS DE 10 DENÚNCIAS GRAVES CONTRA EDELTRUDES COSTA: POR QUE JOÃO LOURENÇO NÃO EXONERA?

Com mais de uma dezena de denúncias públicas, investigações jornalísticas e alegações recorrentes de corrupção, tráfico de influência e enriquecimento ilícito associadas ao ministro angolano e diretor do Gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Maurício Fernandes Gaspar da Costa, cresce a pressão política e social para que o Presidente João Lourenço explique por que mantém no cargo uma das figuras mais controversas do seu núcleo duro.

Com mais de uma dezena de denúncias públicas, investigações jornalísticas e alegações recorrentes de corrupção, tráfico de influência e enriquecimento ilícito associadas ao ministro angolano e diretor do Gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Maurício Fernandes Gaspar da Costa, cresce a pressão política e social para que o Presidente João Lourenço explique por que mantém no cargo uma das figuras mais controversas do seu núcleo duro.

Ao longo dos últimos anos, Edeltrudes Costa tem sido associado a subsequentes denúncias de alegados escândalos de corrupção e tráfico de influência, que conotam a sua atuação enquanto servidor público e gestor de proximidade presidencial. As acusações, divulgadas sobretudo por órgãos de comunicação social e plataformas de investigação, levantam dúvidas sobre conflitos de interesses, movimentações financeiras de grande vulto e negócios com o Estado angolano.

Em resposta, o governante tem negado irregularidades e afirma estar a ser alvo de uma campanha difamatória promovida por grupos ligados ao chamado Clã Dos Santos, apontando Maria Luísa Abrantes, antiga companheira de José Eduardo dos Santos, como uma das suas principais adversárias políticas. Ainda assim, os factos noticiados continuam a suscitar perguntas sem respostas oficiais conclusivas.

Entre os episódios mais citados, há referências a alegadas movimentações bancárias significativas. Segundo reportagens do jornal Expresso, valores elevados teriam sido depositados em contas associadas a Edeltrudes Costa no Banco Angolano de Investimentos (BAI). Parte desse montante — cerca de 17 milhões de dólares — teria sido aplicada em “títulos garantidos” do próprio banco, de acordo com documentos consultados pelo jornal.

Um mês depois, outros cinco milhões de dólares teriam sido transferidos para a mesma conta, provenientes do empresário Domingos Manuel Inglês, figura descrita como próxima do general “Kopelipa”. Ainda segundo a investigação, durante esse período, teriam sido levantados 1,25 milhões de dólares em numerário. O Expresso referiu que Edeltrudes Costa não esclareceu publicamente a razão dessas transferências nem a natureza da relação financeira com o referido empresário.

As denúncias estendem-se ao património no exterior. O mesmo jornal revelou que a fortuna atribuída a Edeltrudes Costa ultrapassaria os 20 milhões de euros, parte da qual teria sido usada para adquirir propriedades em Portugal e no Panamá. Em abril de 2017, já depois de ter sido afastado do Governo por José Eduardo dos Santos, Edeltrudes Costa teria transferido pouco mais de dois milhões de euros para uma conta da sua ex-mulher, Ariete Faria, que posteriormente comprou uma casa em Cascais, nos arredores de Lisboa, por 2,52 milhões de euros.

Há ainda acusações de que o atual diretor do Gabinete do Presidente terá beneficiado milhões de dólares em negócios com o Estado angolano, através de uma empresa de consultoria, levantando suspeitas de favorecimento e uso indevido da posição pública. Fontes críticas chegam a afirmar que Edeltrudes Costa “foi uma das pessoas que fez de tudo para rebentar com a ANIP”, numa referência à antiga Agência Nacional para o Investimento Privado, acusação que ele nunca confirmou.

A pergunta política

Perante este histórico de denúncias graves — ainda que não julgadas em tribunal —, a questão central permanece: por que razão João Lourenço mantém Edeltrudes Costa num dos cargos mais sensíveis do Estado? Para analistas, a permanência do ministro fragiliza o discurso oficial de combate à corrupção e expõe contradições entre a retórica reformista e a prática política.

Enquanto não houver esclarecimentos cabais das autoridades competentes ou decisões judiciais definitivas, o caso Edeltrudes Costa continua a simbolizar um dos maiores testes de credibilidade ao compromisso do Executivo angolano com a transparência, a ética pública e a responsabilização dos titulares de cargos de topo.

Radio Casimiro

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