Líder da CEAST considera precipitada a nova Divisão Político-Administrativa e alerta para falta de condições no país

O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, manifestou reservas quanto à forma e ao momento em que foi implementada a nova Divisão Político-Administrativa (DPA) em Angola, considerando a medida “uma surpresa” e “precipitada”.

Dom Imbamba reconheceu, no domingo último, que a criação de novas províncias e municípios é, em tese, uma necessidade, mas alertou que faltaram preparação, diálogo e condições estruturais mínimas para garantir que a decisão tivesse o impacto social esperado.

“Foi, para mim, uma medida um pouco precipitada, porque as condições deveriam ser bem criadas. As infra-estruturas, as estradas deviam estar preparadas para que uma acção dessa envergadura pudesse ter o impacto social desejado”, afirmou o arcebispo.

Segundo o líder religioso, a decisão apanhou muitos de surpresa, pois não era aquilo que se previa no debate nacional, nem o que se esperava do processo político em curso. Ainda assim, reconheceu que os governantes podem ter informações e estratégias que não são do conhecimento da sociedade civil.

“Os governantes têm uma visão que talvez nós, como cidadãos, não temos. Têm razões políticas que não conhecemos. Então criou-se a DPA que temos. Temos que ser condescendentes e consequentes para ajudar a criar uma infraestrutura à altura das encomendas”, disse.

Apesar de destacar a importância de descentralizar os serviços públicos e dar aos cidadãos mais opções sobre onde viver e ter acesso a oportunidades, Dom Imbamba alertou que a crise económica e financeira que o país atravessa deveria ter sido levada em conta antes de implementar uma medida com este alcance.

“Tudo isto deveria ser feito de maneira mais harmoniosa. O país está numa crise muito grande. Eu, pessoalmente, não me vejo como decisor público a tomar uma decisão desta envergadura nestas condições”, frisou.

Ainda assim, o presidente da CEAST fez questão de reconhecer o esforço do Executivo e apelou à colaboração de todos os sectores da sociedade para garantir que a decisão agora tomada possa resultar, de facto, em benefícios concretos para os cidadãos.

“Parabenizamos, porque, como disse, eles saberão talvez melhor do que eu a razão pela qual se tomou esta decisão. Vamos trabalhar para que tudo corra bem e que os cidadãos, acima de tudo, sejam bem servidos.”

A nova Divisão Político-Administrativa foi oficializada este ano e deu origem a três novas províncias: Cuando, Moxico Leste e Icolo e Bengo. A medida tem sido alvo de críticas por parte de organizações da sociedade civil, analistas políticos e líderes religiosos, que apontam a falta de consultas públicas e de capacidade orçamental como obstáculos à sua execução eficaz.

Imparcial Press

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