Ex-colaborador do SIC provoca exoneração do director de Combate ao Narcotráfico

O Presidente da República, João Lourenço, exonerou nesta terça-feira o comissário de investigação criminal Rufino Mário Zangui Gunza do cargo de director de Combate ao Narcotráfico do Serviço de Investigação Criminal (SIC), decisão que ocorre na sequência de denúncias graves que envolvem o seu nome em alegadas práticas ilícitas e abuso de autoridade.

A medida presidencial surge menos de dois anos após a sua nomeação através do Decreto Presidencial n.° 20/2024, de 5 de Janeiro – e marca mais um episódio de instabilidade interna no órgão responsável por uma das áreas mais sensíveis da segurança pública: o combate às redes de tráfico de droga em Angola.
A exoneração de Rufino Gunza acontece após a divulgação de recentes denúncias feitas por um antigo colaborador, Afonso Jovelino Mendes, que afirma ter sido mantido em cárcere privado durante vários dias, alegadamente por ordens do então director.

Afonso Mendes, de 37 anos, colaborava informalmente com o SIC desde 2023, prestando informações que, segundo ele, resultaram em operações bem-sucedidas de apreensão de drogas, diamantes e moeda falsa.

O denunciante afirma que, após meses de convivência nas instalações do SIC em Cacuaco, foi transferido para a residência oficial do comissário Rufino, no bairro Benfica, onde diz ter sido privado de liberdade e sujeito a maus-tratos.

O caso encontra-se actualmente sob segredo de justiça na Polícia Judiciária Militar, mas fontes internas do SIC confirmaram ao Imparcial Press a veracidade de parte dos relatos, preferindo manter anonimato “por medo de represálias”.

Numa carta de oito páginas dirigida ao director-geral do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE), general Fernando Garcia Miala, Afonso Mendes pedia protecção à sua integridade física, afirmando estar a ser perseguido e ameaçado de morte por oficiais superiores do SIC.

O documento descreve um quadro perturbador de alegadas práticas de corrupção, extorsão e manipulação de provas, com nomes de altos dirigentes do Serviço de Investigação Criminal apontados por Mendes como envolvidos em esquemas de “negociação” de casos de narcotráfico e contrafação.

“Todo o dinheiro encontrado na posse dos traficantes nunca era apreendido, e a droga era sempre reduzida à quantidade exacta encontrada”, lê – se num dos trechos da carta.

As denúncias também mencionam pagamentos para ingresso e promoção no SIC, além da existência de empresas ligadas a oficiais que beneficiariam de contratos com a própria instituição.

O caso provocou profundo mal-estar entre os efectivos do SIC, com vários efectivos a reconhecerem que o episódio revela “fragilidades graves na cadeia de comando e na cultura de accountability” da instituição.

Imparcial Press

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