Aniceto Abel da Cunha Cambango acusado de raptar Jornalista Mariano Brás a mando do PCA da Sonangol, Sebastião Pai Querido Gaspar Martins, para impedir a publicação de uma denuncia no semanário OCRIME. Um novo escândalo de corrupção abalou a petrolífera estatal Sonangol, documentos e áudios em posse do Repórter Angola foram amplamente partilhado nas redes sociais.
Um novo escândalo de corrupção abalou a Sonangol, documentos e áudios em posse do Repórter Angola foram amplamente partilhado nas redes sociais, apontando os actores deste drama como Aniceto Abel da Cunha Cambango, militante do MPLA e director da área de segurança e activos da petrolífera estatal, Hermenegildo Octavio Kulenda, Joaquim Mande, Adilson Dias , Mauro Mendes, e um individuo identificado apenas por José, tinham como missão principal a figura de Sabalo Jose Moises Salazar, mais conhecido por “Sacatindi” que terá resultado em burla ao presidente do Conselho de Administração, Sebastião Pai Querido Gaspar Martins, com desvio de cerca de 180 milhões de kwanzas num alegado esquema de suborno.
A novela ganhou mais contornos com o Jornalista e Director do semanário OCRIME, Mariano Brás, a denunciar ter sido vitima de um rapto orquestrado no sábado, 6 de Setembro, por volta das 17 horas, quando foi surpreendido por 4 elementos, entre eles supostos efectivos do SIC, SINSE e MPLA, altamente armados com armas de fogo do tipo Mini Uze e Star, raptaram o jornalista à porta da sua casa, levando-o para sítio incerto.
O Repórter Angola, contactou na manhã desta segunda-feira, o SIC, onde o jornalista Mariano Brás participou o caso no Serviço de Investigação Criminal, departamento dos crimes organizados, e o processo decorre com o número 1012/025-DCCO.
Momentos antes, conta Marino Brás, que por volta das 10 horas, Aniceto Abel da Cunha Cambango, um militante do MPLA, com sonhos que suplantam as suas capacidades, insistia num contacto com Brás. Apresentou-se, inicialmente, como representante do PCA da Sonangol, que tinha o objectivo de fazer chegar ao jornalista 100 mil dólares. Pedia, em troca, que o jornal dirigido por Mariano não avançasse com uma matéria sobre o PCA, cuja manchete circulava já pelas redes sociais, era o destaque da capa.
Achando estranha a conversa, e por uma questão de segurança, o jornalista Brás entendeu que seria prudente marcar o encontro para a sua área residencial, à porta de sua casa, nunca na via pública, de onde teria de transportar os valores, correndo riscos, obviamente. Aliás, a via pública até podia ter sido um pretexto para a eliminação física do jornalista, que era, na verdade, a sua intenção dos malfeitores.
Segundo a nossa fonte, Aniceto Cunha surgiu na rua onde o jornalista vive, ao volante de uma viatura do tipo Toyota Lander Cruiser, cor branca, acompanhado de um indivíduo de aproximadamente 1,85 de altura, corpulento, vulgo caenche, tatuado, voz grossa e com o rosto de ‘poucos amigos’.

Mariano Brás e um amigo, Filomeno Pedro Sebastião, foram convidados a entrar para a viatura, enquanto esperavam pela chegada de José, um elemento afecto ao corpo de segurança do PCA da Sonangol, como o mesmo se apresentava, mas, instintivamente, Filomeno pediu para descer da viatura, uma vez que teve o pressentimento de que alguma coisa não estava bem.
Já fora do carro, minutos depois, José (representante do Chefe da Segurança da Sonangol, Eduardo de Sousa dos Santos), um indivíduo de ‘boa aparência’ apareceu ao volante de um prado, modelo idêntico aos que foram oferecidos aos campeões africanos de basquetebol. Barba branca, bastante manso e aparentemente inofensivo. São alguns dos traços identitários do homem. De inofensivo só tinha mesmo a aparência, já que a postura intimidatória arruma a questão. Tinha a companhia de um outro caenche, igualmente alto, uma voz bastante rouca e , como tudo indicava, bem mais violento.
Desta vez, José tomou as rédeas da conversa, convidando Mariano Brás e Filomeno Sebastião a entrar para a sua viatura e definiu o lugar onde cada um devia sentar-se. Mariano foi colocado no banco traseiro, entre os dois latagões, enquanto Filomeno ocupou o banco de frente. Foi aí que o jornalista se apercebeu que havia uma arma do tipo Mini Uze e, assustado, alerta aos demais ocupantes da viatura. “Aqui tem uma arma, o que se passa afinal?”, questionou Mariano Brás, que, seguidamente, ouvia a resposta de um dos seus raptores: “sim, tem e qual é o problema? Vais ou não nos dar o que nós queremos?”, perguntou. Em resposta, o jornalista disse que nada tinha para dar, e José disse que ele daria “a bem ou a mal”.

Nesta altura Filomeno saiu do carro gritando “não façam isso, ele é chefe de família, não façam isso, vocês querem fazer isso porquê? Como gritava muito e podia chamar a atenção dos vizinhos, foi colocado numa outra viatura, em companhia de Aniceto Cunha, que também estava armado, com uma pistola do tipo Makarov.
Em seguida, José desceu da viatura para falar ao telefone, isto é, como se fosse receber orientações de alguém, quando regressou em companhia de Aniceto que, com arma em riste, disse “vamos levá-lo daqui para executar a missão, ele vai ter que falar, os kotas já orientaram”.
Conduziram as viaturas para sítio incerto, tendo José, ao longo do percurso, dito o seguinte: “Mariano, tu sabes que tens muitos inimigos, né? Olha, nesta altura tem quatro kotas que querem a tua cabeça, eu é que estou a fazer contenção, entretanto, é melhor você colaborar se não vão mesmo te comer e não sei o que fizeste também ao Aniceto, pois ele também pretende desfazer-se de ti”.
No Kassequel do Lourenço, junto ao posto de serviço do SME, pararam as viaturas e com duas armas apontadas à cabeça Mariano Brás foi obrigado a entregar o telefone, desbloquear e passar tudo o que tinha no seu interior referente ao caso Sonangol.
Um deles, indivíduo de pele clara, tem o número registado, sabe-se agora, com o nome de Rafael Domiguez.
Depois de terem acedido ao material de que tanto procuraram, pelo qual tinham prometido pagar até 100 mil dólares, eles desceram para, mais uma vez, falar com alguém e quando regressaram à viatura disseram que sairíamos do local. A meta era um outro sítio, para “metê-lo a dormir”.
Desta forma, seguiram até à antiga Marginal de Luanda, nas imediações da 4º Esquadra, ao lado das instalações da Marinha de Guerra, onde pararam o carro e ali José voltou a descer da viatura para falar ao telefone.
Posteriormente, mandou o jornalista trocar de carro e todos regressaram à zona de onde os raptados foram retirados. Mas não os deixaram sem um aviso, principalmente para Mariano: “há terrenos que não devemos pisar, esses kotas são viciados ao poder, eles estão dispostos a fazer qualquer coisa para se manterem. Olha, não escreva sobre os magistrados, dirigentes do MPLA, PCA das empresas publicas e altas patentes da polícia, pois se você voltar a escrever sobre uma dessas entidades já não te deixamos vivo, pois a vida é só uma e para ti não haverá mais uma outra chance, até porque os kotas não gostam mesmo de ti”.
Como ‘bons amigos’, acompanharam o jornalista até à sua casa e desejaram-lhe feliz noite.
A matéria da morte primeira parte
Mariano Brás tinha um exclusivo sobre a Sonangol e o seu PCA, que almeja ser Ministro dos Petróleos, estando para o efeito, como indicam as informações disponíveis, a pagar alguns activistas e opositores do MPLA. Há também dossiês sobre as negociatas existentes naquela empresa.
Entretanto, apesar de a matéria ter sido roubada, alguns trechos estão a vazar, havendo mesmo áudios nas redes sociais e documentos amplamente partilhados.
Um dos maiores erros do Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Pai Querido, e o do ex-Presidente do Conselho Executivo da Sonangol Distribuidora, Bernardo Vieira cometeram, foi a proposta para um novo contrato com dois administradores, ambos aposentados. Trata-se de Fernando Joaquim Roberto e Filomena Rosa, que foram empossados recentemente como administradores da empresa TOMSA, que é a Joint Venture entre a Sonangol e a empresa Total.
Outrossim, estes são detentores de parcerias em vários postos de abastecimento, constituindo uma máfia ao serviço da protecção dos seus interesses.
Por exemplo, Fernando Joaquim Roberto já foi PCE da Sonangol Distribuidora, uma empresa que, segundo as nossas fontes, não alavancou no seu consulado. Privatizou bastante em seu próprio benefício, sendo detentor de quase 25% dos postos de abastecimentos a nível nacional.
Este administrador Fernando Joaquim Roberto esteve sempre, de forma camuflada, envolvido em tráficos Ilícitos nos negócios de retalho, lubrificantes, marinha e imobiliários, que anteriormente pertenciam à petrolífera.
Estas manobras de sabotagem do sistema SAP, visando apagar facturas e introduzir dinheiro electrónico falso nos postos de combustível, são descritas como
estratégias dos dois administradores, envolvendo os directores da SNL/D, para benefícios próprios.
“Porque no passado as suas empresas é que criaram e controlavam o sistema SAP, conhecem todos os manuseamentos e fraudes no sistema SAP, e criaram uma rede de técnicos de informática e não só”, sustentam as fontes.
Na antiga gestão da Sonangol, na era de Filomena Rosa, e sob olhar silencioso do administrador Fernando Joaquim Roberto, que controlava a área de finanças, surgiram enormes fraudes nas contas da Sonangol Distribuidora, no sistema SAP, bem como nos bancos comerciais.
Segundo os oficiais de inteligência, algumas empresas estão conotadas com os mesmos administradores, impedindo a tomada de medidas naquela subsidiária, para não ferir as ligações, sempre sob olhar silencioso do PCA da Sonangol.
É uma realidade que, após a exoneração do antigo PCA da Sonangol, Carlos Saturnino, houve um grito de alegria dos gestores de diversas áreas na Sonangol Distribuidora, uma vez que articulou também a cabala contra o PCA cessante.
“Estava a ser feito um acompanhamento pelo mesmo Carlos Saturnino por má gestão e crime organizado e após a exoneração de Saturnino foi nomeado de imediato pelo novo PCA, Pai Querido”, contam.
Seguiu os procedimentos administrativos, despachando de imediato os três relatórios ao Director da Direcção de Segurança e Ambiente (DSE), Eduardo João de Sousa Santos, (o principal suspeito de ser o mandante do rapto do jornalista Mariano Brás), para posteriormente o chefe da secreta tomar conhecimento das ocorrências e agir em relação à permanência ou saída de Bernardo Vieira, que estava a interinar a Sonangol Distribuidora há cerca de um ano.

O erro grave do director de área de segurança da Sonangol, com as informações em sua posse, foi ter alertado o funcionário Bernardo Vieira, recentemente exonerado das suas funções como presidente do Conselho Executivo da Sonangol Distribuidora, de todas as irregularidades que indicavam BV nos relatórios confidenciais dirigidos ao PCA cessante Carlos Saturnino.
Tudo isto de forma a ser agraciado com valores monetários, vincaram as fontes.
Para elas, Bernardo Vieira pagou muito dinheiro ao director Eduardo no sentido de proteger-lhe das irregularidades que Carlos Saturnino já dominava.
“Isto nunca foi procedimento de um oficial de inteligência basificado numa das maiores empresas estratégicas do País”, comenta um conhecedor do dossiê.
O mesmo é proveniente dos Serviços de Emigração e Estrangeiros, onde não teve um aproveitamento operativo excelente, a tal ponto de ter montado um escritório secreto no distrito da Maianga. Foi a via para o enriquecimento ilícito, através de vistos a favor de estrangeiros Ilegais.
Depois do fracasso no SME, contactou a antiga Primeira-dama da República, Ana Paula dos Santos, por sinal sua prima, a pedir favores. Esta, por sua vez, contactou o General Patónio, que o “lançou” como director da DSE da Sonangol, deixando vários pendentes no SME.
Na Sonangol, tem pautado por uma conduta indecorosa, de bajulação de gestores para beneficiar de facilidades e postos de combustível, ocultando informações ao seu superior hierárquico.
Questiona-se mesmo como se vai combater a corrupção, quando o cancro é proveniente de alguns oficiais dos órgãos de segurança.
Segundo fontes do REPORTER ANGOLA, ligadas ao processo, Aniceto Cunha foi incumbido de intermediar o pagamento de 200 milhões de kwanzas ao investigador e ativista Sabalo José Moisés Salazar, mais conhecido como “Sakatindi”, com o objectivo de comprar o seu silêncio após denúncias de corrupção envolvendo a Sonangol. No entanto, apenas 50 milhões chegaram ao destino; o restante valor terá sido apropriado pelo próprio Aniceto.
A operação foi mascarada como um contrato de “consultoria em prevenção de fraude e branqueamento de capitais”, através da empresa RAI&NOR – Investimento e Prestação de Serviços, Lda, que solicitou ao Banco Angolano de Investimentos (BAI) a transferência de 45 milhões de kwanzas para a conta de Salazar.
Documentos bancários confirmam a transação, bem como uma transferência adicional de 3,5 milhões de kwanzas para cobrir despesas de viagem. Um bilhete de embarque da TAP comprova que Salazar viajou de Lisboa para Luanda nas mesmas datas da reunião com os representantes da Sonangol.
O caso tomou proporções inesperadas. Enquanto os registos confirmam que Sakatindi recebeu parte do dinheiro, a revelação de que Aniceto terá retido a maior fatia do montante expõe não apenas um esquema de corrupção, mas também uma fraude interna dentro da própria petrolífera.
Em declarações ao Repórter Angola, Sakatindi reconheceu o pagamento, mas negou qualquer ligação a uma conspiração contra o Presidente da República, sublinhando que prestou “serviços de consultoria, com contrato assinado e trabalhos entregues, todos recibos das transferências são verdadeiros mas o conteúdo de criticar o presidente da republica nada tem a ver comigo, é falsa essa ideia, pagaram por um trabalho que solicitaram-me, e reuniu com PCA da Sonangol” frisou Salazar.
O silêncio da administração da Sonangol e a ausência de resposta de Sebastião Pai Querido Gaspar Martins às tentativas de contacto da imprensa aumentam as suspeitas em torno do escândalo.
O episódio junta-se a uma série de denúncias de má gestão e uso indevido de fundos públicos que têm marcado a gestão da Sonangol nos últimos anos, levantando sérias questões sobre a integridade e transparência da maior empresa pública do país.