O Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE) informa que foi celebrado, hoje, 27 de Maio, o contrato de alienação dos activos da Fábrica de Montagem de Automóveis com a empresa OPAIA, S.A., concorrente vencedor do concurso limitado por prévia qualificação, no âmbito doPrograma de Privatizações.
O referido contrato foi assinado pelos representantes do Conselho de Administração do IGAPE e do Grupo OPAIA, numa cerimónia que assinala o encerramento do processo iniciado a 27 de Janeiro do ano em curso. “Com esta adjudicação, o IGAPE dá mais um passo firme na reactivação e dinamização do sector industrial, promovendo o investimento privado, a criação de emprego e o aumento da produção nacional. O IGAPE reafirma o seu compromisso com a transparência, o rigor e a adopção das melhores práticas na condução dos processos de privatização em curso” lê-se na nota divulgada pelo IGAPE.
Entretanto, a sociedade angolana aponta o dedo mais uma vez as supostas manobras de “enriquecimento sem causa” e condena João Lourenço por estar a “abastecer apenas pessoas próximas a si” segundo populares ouvidos pelo O Decreto.
A Ascensão de Agostinho Kapaia e o Grupo Opaia
Fundado em 2002 por Agostinho Pinto João Kapaia, o Grupo Opaia emergiu como uma das mais influentes empresas angolanas, com fortes ligações ao MPLA e uma actuação diversificada nos sectores de energia, engenharia, ambiente, saúde, transportes, construção civil e industrial. Com sede em Luanda e registado sob o NIF 5417149926, o grupo passou a operar como sociedade anónima (“OPAIA, S.A.”) com um capital social inicial de 10 milhões de kwanzas.
A administração da empresa tem sido liderada por Kapaia, que acumulou poderes significativos como administrador delegado desde 2012. O seu círculo de gestão inclui nomes recorrentes como Evaristo Praia Dambuca e outros membros designados ao longo dos anos, numa estrutura que combina familiares e colaboradores próximos.
Nos últimos anos, o Grupo Opaia tem garantido contratos públicos de grande valor em Angola, o que tem levantado críticas e suspeitas sobre favorecimento político. Eis alguns dos principais contratos atribuídos ao grupo:
Em Julho de 2022, Opaia recebeu garantia soberana de 350 milhões USD para construir uma fábrica de fertilizantes no Soyo. O projeto Amufert, avaliado em 2,2 mil milhões USD, conta com financiamento do Afreximbank.
Em Junho de 2022, foi autorizado o contrato de 357,5 milhões EUR para a construção de estações de tratamento de água no Quilonga Grande. O consórcio inclui Opaia S.A., Casais Angola, Gauff GmbH e CNT BAU GmbH.
Em Setembro de 2023, Opaia Europa, em consórcio com a espanhola Makiber, assina contrato de 45,3 milhões EUR para construção e reabilitação de morgues em Luanda.
Em Maio de 2024, Opaia Europa e a IDC International Trading DMCC (Dubai) vencem contrato de 323,5 milhões EUR com o Ministério dos Transportes para fornecimento de 600 autocarros, através de despacho presidencial criticado por falta de transparência.
Conquista da Fábrica da CIF – Um Brinde Político?
No dia 27 de maio de 2025, o IGAPE (Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado) anunciou oficialmente a alienação da antiga Fábrica de Montagem de Automóveis da CIF ao Grupo Opaia, vencedora do concurso no âmbito do Programa de Privatizações (ProPriv).
Localizada na Zona Económica Especial Luanda–Bengo e com 362 mil m², a fábrica encontrava-se paralisada e foi inicialmente construída pela CIF (China International Fund), que mantinha laços estreitos com a elite política e militar angolana.
Este negócio é visto como um “brinde político” a Kapaia, alegadamente beneficiado pelo Presidente João Lourenço. A crítica pública sublinha que o ativo será pago pelo povo angolano ao governo chinês, mas atribuído a uma empresa privada, cuja ligação ao círculo presidencial é evidente.
Controvérsias e Críticas Públicas
A trajetória do Grupo Opaia tem sido marcada por constantes denúncias de falta de transparência, especialmente nos contratos atribuídos por ajuste direto. O activista, jornalistas e outros membros da sociedade civil têm levantado suspeitas de favorecimento político e má gestão de fundos públicos.
Críticas mais recentes apontam que João Lourenço está a usar empresas como a Opaia para garantir acordos lucrativos no exterior (nomeadamente no Dubai), numa alegada preparação para a sua saída da vida política, deixando um legado controverso.
Tentamos sem suceso ouvir Agostinho Pinto João Kapaia.
O Decreto