Ministro Tetê António exibe pasta de 30 milhões de kwanzas durante Assembleia Geral da ONU

O ministro das Relações Exteriores, Tetê António, foi interpelado pelo activista Nelson Dembo, mais conhecido por Gangsta 77, à margem da 80.ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, quando realizava compras em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América.

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O episódio, registado em vídeo e amplamente partilhado nas redes sociais, provocou uma onda de apoio popular ao activista e críticas ao governante angolano.

Nas imagens, Tetê António surge acompanhado do seu segurança e exibindo uma pasta de marca Berluti Alligator Crocodile, avaliada em 29.976 dólares (mais de 30 milhões de kwanzas), além de outros acessórios de luxo, como se pode ver neste vídeo (Facebook).

A ostentação do ministro das Relações Exteriores não passou despercebida, especialmente num contexto em que grande parte da população angolana enfrenta dificuldades económicas severas.

Para o activista Isidro Fortunato, a ostentação de bens de luxo por servidores públicos revela “a pobreza mental e social que impede o país de avançar”.

O afrocrata questionou a legitimidade da ostentação. “Os advogados do diabo que defendem um servidor público com uma pasta de 30 mil dólares conseguem dormir? É por isso que o país não caminha: dirigentes que exibem extravagâncias enquanto a maioria vive na miséria.”

Este não é um caso isolado. O próprio Presidente João Lourenço foi recentemente alvo de críticas ao surgir em público com calçado avaliado em mais de três milhões de kwanzas.

Outros dirigentes, incluindo ministros e governadores, têm sido acusados de circular em viaturas milionárias e de usar acessórios incompatíveis com a função pública que exercem, em flagrante contraste com a realidade económica do país.

O jornalista angolano Ilídio Manuel considera que o incidente em Nova Iorque levanta questões maiores sobre a forma como os angolanos lidam com actos de protesto contra governantes.

“Se tivesse acontecido em Angola, os activistas estariam a enfrentar consequências. O facto de ter ocorrido nos Estados Unidos, onde a liberdade de expressão é mais tolerada, dá outra dimensão ao episódio”, observou.

Segundo o jornalista, o caso remete a episódios semelhantes noutras partes de África, como no Senegal, onde ministros foram agredidos em público no estrangeiro devido a contestação política.

Para llídio Manuel, mais do que um ataque pessoal, trata-se de uma demonstração da insatisfação popular perante dirigentes que proclamam combate à corrupção e austeridade, mas não abrem mão de sinais ostensivos de luxo.

A polémica reforça o debate em torno da imagem de dirigentes angolanos que, em contraste com o discurso oficial de combate à corrupção e promoção de austeridade, são frequentemente associados a sinais de riqueza e luxo.

Para muitos cidadãos, este desfasamento entre discurso e prática é mais um elemento que fragiliza a credibilidade das instituições.

Imaprcial Press

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