Dezenas de pequenos comerciantes não sobreviveram à vandalização

São às dezenas as pequenas lojas que, passado um mês após os tumultos que afectaram Luanda, se encontram ao abandono, muitas delas sem portas e janelas. A maior parte dos empresários não conseguiu reparar os espaços nem adquirir stock para voltar a reabrir.

A maior parte dos pequenos negócios que foram saqueados nos bairros da periferia de Luanda durante os tumultos que ocorreram entre 28 a 30 de Julho ainda não reabriram portas e muito dificilmente voltarão a abrir portas, constatou o Expansão numa ronda pela capital do País. Tratam-se de várias dezenas de lojas, cuja actividade variava entre a venda de telemóveis, alimentação e bebidas, bem como cosméticos.

Ao contrário das grandes lojas como supermercados, que até contaram com apoio do Governo para dar a volta à situação, e que na sua maioria já reabriram, nos casos das micro e pequenas empresas a maior parte dos seus proprietários desapareceram dos locais depois de terem perdido todo o stock.

Nos locais com maior registo de vandalizações, como os bairros Golfe 2 e Calemba 2, é visível que as grandes empresas como as redes Fresmart, Arreiou, Angomart, Nossa Casa e o estabelecimento Henda Ya Mama Comercial (hospedaria e restaurante) estão em processo de reabertura, mas o mesmo não acontece com espaços comerciais mais pequenos, cujas lojas estão hoje vazias e continuam destruídas.

No calemba 2, junto aos grandes comerciantes encontravam–se pequenos vendedores que comercializavam materiais electrónicos, como telemóveis, rádios, os aparelhos “bluetooth” e outros que vendiam cabelo brasileiro e “magoga” que não foram poupados pelos saqueadores.

“A Mingota vendia aqui as suas perucas e cabelo brasileiro. Era o único negócio que ela fazia, infelizmente já não vem, e não está a fazer nada porque o espaço era arrendado e estava à espera do lucro para pagar dívidas dos produtos que adquiriu para revender”, disse Paula T., que lamentou a destruição do negócio da sua amiga.

Durante a reportagem do Expansão foram vários os relatos semelhantes sobre pessoas que perderam os seus negócios e ficaram sem qualquer actividade profissional. “Tinha um senegalês que vendia aqui a sua mercadoria numa loja, mas depois da vandalização nunca mais voltou a abrir e agora tenho que andar muito para conseguir os produtos”, disse uma zungueira.

Nos vários bairros onde há pouco mais de um mês se espalhou o pânico junto da população, a “paisagem” é hoje marcada por muitas lojas ao abandono e ainda vandalizadas, à espera de melhores dias. Em muitos destes casos, não foram apenas os donos das empresas que ficaram prejudicados, mas também os proprietários dos espaços, a maior parte deles arrendados.

O Expansão procurou sem sucesso falar com alguns dos proprietários desses espaços comerciais, uma vez que muitos viviam fora dessas zonas.

Enquanto as maiores empresas beneficiaram de apoios governamentais – através de crédito do BPC com taxas de juro muito abaixo das praticadas no mercado – estes pequenos empresários não tiveram a mesma sorte. Até porque muitos deles acabam por funcionar num sistema de quase informalidade.

Segundo Raúl Mateus, presidente da Associação de Empresas de Comércio e Distribuição Moderna de Angola (ECODIMA) estas micro e pequenas empresas não foram apoiadas precisamente por esta questão da informalidade, pois muitas não se encontravam com a situação fiscal dos seus estabelecimentos regularizada. “A associação respeita os seus limites e protege os seus associados. Quando desconhece o estado legal de empresas aí não actuamos, e é o que aconteceu com os pequenos comerciantes, que fazem parte de outras associações”, esclareceu Raúl Mateus, presidente da ECODIMA.

Expansão

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