A forma peculiar como a presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, tem defendido a imagem do Presidente da República, João Lourenço, durante as sessões parlamentares, originou na semana passada uma onda de críticas e desconfianças nos bastidores do panorama político angolano.
Carolina Cerqueira assumiu a presidência deste órgão de soberania em 2022, após a controversa reeleição de João Lourenço nas eleições gerais desse ano. A sua escolha, segundo fontes fidedignas do Imparcial Press, foi uma imposição do Chefe de Estado ao seu Grupo Parlamentar.
Mas afinal, o que liga João Lourenço a Carolina Cerqueira?
Uma ligação antiga
A relação entre ambos teve início nos anos 80, quando João Lourenço foi nomeado Comissário (governador) Provincial do Moxico (1983 a 1986). Foi nesse período que conheceu Carolina ou melhor, Carol, como é tratada por ele nos bastidores-, então jovem repórter da Rádio Nacional de Angola (1977 a 1984).
Com apenas 26 anos, Carolina deslocou-se ao Moxico, vinda de Luanda, juntamente com outros jornalistas, para cobrir uma actividade política presidida por João Lourenço.
No final do evento, João Lourenço convidou-a para um breve encontro, solicitando informações sobre uma colega jornalista – cujo nome é propositadamente omitido que integrava a caravana e que teria chamado a sua atenção. Por sua vez, Carolina comprometeu-se em ajudá-lo a aproximar-se dessa profissional.
Presume-se que, na altura, João Lourenço, com apenas 29 anos, era solteiro, tendo casado com a actual primeira-dama, Ana Afonso Dias Lourenço, apenas em 1986.
Apesar do fracasso da missão incumbida – pois, a referida jornalista recusou se relacionar com então governador uma vez que mantinha um relacionamento com um colega da mesma estação, os dois mantiveram contacto desde então, estreitando cada vez mais a sua proximidade.
Fontes do Imparcial Press acrescentam que, ao longo desse período, Carolina chegou a apresentar outras jovens mulheres a João Lourenço, desempenhando uma espécie de papel de “proxeneta” para o então dirigente.
Para além disso, sempre se mostrou prestativa e disponível, recebendo em troca o apoio e atenção do amigo João Lourenço.
Um dos exemplos mais recentes desta influência terá ocorrido em Janeiro de 2024, quando o ex-deputado João Pinto foi nomeado inspector-geral da Administração do Estado (IGAE), em substituição de Ângelo Veiga Tavares, a pedido de Carolina Cerqueira.
Além de João Pinto, existem vários outros dirigentes que chegaram à liderança (ou a cargos de chefia) de várias instituições públicas.
Projecção política
Quando João Lourenço chegou à Presidência, Carolina Cerqueira exercia funções como ministra da Cultura, cargo que manteve até 2019, ano em que foi exonerada e nomeada ministra de Estado para a Área Social da Presidência, posição que ocupou até 2022.
Antes das eleições gerais de Agosto desse ano, Lourenço chegou a propor o seu nome para vice-Presidente da República, ou seja, para ser o número dois da lista dos candidatos à deputados à Assembleia Nacional.
Contudo, a ideia encontrou resistência no Bureau Político do MPLA, devido à dupla nacionalidade de Carolina – angolana e portuguesa – facto confirmado no assento de nascimento n.º 94418 (2009).
Filha de Clementino Cerqueira, natural de Amarante, no norte de Portugal, Carolina nasceu a 20 de Outubro de 1956, em Caculo Cabaça, município da Banga, província do Cuanza Norte, e detém assim também a cidadania portuguesa.
Por esse motivo, João Lourenço foi forçado a indicar prima do seu melhor amigo, Esperança Maria Eduardo Francisco da Costa como vice-Presidente, ficando Carolina em terceiro lugar na lista de candidatos a deputados.
Nos meses de Junho e Julho de 2024, Carolina Cerqueira representou João Lourenço em dois eventos oficiais no âmbito do 50.º aniversário da independência, realizados em Cabo Verde e em Moçambique.
Esse facto gerou suspeitas e críticas, uma vez que a presidente da Assembleia Nacional foi acusada de usurpar funções constitucionais que competem à vice-Presidente da República.
Imparcial Press