Os dados constam do relatório sobre a Escala de Experiência em Insegurança Alimentar (FIES).
O estudo, datado de Janeiro de 2023 e baseado em dados de 2020, mas só agora divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), indica que 43,9% dos agregados familiares do País o equivalente a cerca de 1,03 milhão de lares – viveram situações de insegurança alimentar severa.
Entre os factores que contribuíram para esse cenário estão a seca, a estiagem, vias de acesso precárias, o desemprego, a desvalorização da moeda nacional e a inflação.
A situação é mais crítica nas zonas rurais, onde 44,8% das famílias relataram passar fome, contra 40,6% nas áreas urbanas. Além disso, os lares chefiados por mulheres são os mais afectados, representando 47,5%, contra 42,3% daqueles liderados por homens.
Para o economista Miguel Manuel, os números reflectem uma crise estrutural agravada por políticas públicas insuficientes. “Não se trata apenas de falta de comida, mas de um problema complexo que envolve logística, renda e acesso a mercados”, afirma.
“As famílias rurais, por exemplo, produzem alimentos, mas não conseguem escoá-los por falta de estradas. Enquanto isso, nas cidades, o desemprego e a inflação corroeu o poder de compra”, explica.
Já a médica Mónica Tavares destaca os efeitos da má nutrição a longo prazo. “Quando uma família fica um dia inteiro sem comer, a consequência não é apenas a fome imediata, mas o comprometimento do desenvolvimento físico e cognitivo. Isso gera um ciclo de pobreza difícil de romper”, alerta.
Entre as províncias com os piores índices estão Cunene com60,3% seguido por Cuando Cubango (58,7%), Lunda-Norte (58,5%), Huila (58,2%)e Namibe (56,1%).
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