Os intermediários, segundo a lei, podem ganhar comissões de até 10% do valor do contrato, seja no arrendamento ou venda, montante que deve ser pago pelo proprietário da casa. Mas estes “mixeiros” cobram até 17% de comissão a quem quer alugar casa, mesmo este não tenha solicitado os seus serviços.
A prática de intermediação ilegal de arrendamento e venda de casas continua a ganhar espaço no País e tem-se tornado cada vez mais lucrativa com o aumento da procura que contrasta com a reduzida oferta no mercado. Com o crescimento exponencial da população, a procura de uma residência em Luanda tem sido um grande desafio para muitos, já que os preços das habitações continuam a subir, atraindo cada vez mais os conhecidos intermediários ao negócio imobiliário, os chamados “mixeiros”.
Apesar da existência de intermediários legalizados, associados à Associação dos Intermediários de Angola e a outros organismos que conferem autorização para exercer tal prática, os “mixeiros” são os mais solicitados e alguns quase que impõem os seus serviços a quem necessita adquirir ou arrendar casa.
Normalmente, o intermediário “mixeiro” é o indivíduo que pratica a intermediação de venda e arrendamento de casas sem nenhum tipo de certificação. Este identifica casas no mercado que estejam a ser vendidas ou alugadas e publicita, faz anúncios, ou busca de outras maneiras clientes para adquirir ou arrendar estes imóveis.
De acordo com relatos ouvidos pelo Expansão, os intermediários vão-se tornando para alguns um mal necessário, enquanto que para outros são a origem de um pesadelo e factor do aumento dos gastos no processo de procura de casa.
Pedro Pungo, por exemplo, contou que enquanto procurava uma casa para arrendar nas imediações do Cassenda viu vários anúncios, na sua maioria, no Facebook e, ao tentar contactar o proprietário, deparava-se sempre com um intermediário. “Os contactos associados aos anúncios agora são sempre dos intermediários, é raro conseguir falar directamente com o proprietário da casa”, reclamou. O canalizador contou que gastou mais de 10 mil Kz, só a ver casas que, no final, não conseguiu arrendar. “O que aparece nos anúncios muitas vezes é insuficiente, de tal forma que é necessário ver a casa pessoalmente para saber se atende às necessidades da pessoa. Às vezes, mesmo com fotos, não é suficiente. O problema é depois a quantidade de casas que se tem de ver até encontrar a adequada, e os intermediários cobram dois mil kwanzas para ver a casa pessoalmente.
Pedro Pungo relatou ainda uma situação em que foram duas pessoas ao mesmo tempo para ver a mesma casa. “A outra senhora disse que gostou muito da casa e tinha o dinheiro em mãos para pagar o aluguer, mas eu, mesmo vendo a casa já praticamente sendo ocupada por outra pessoa, ainda fui obrigado a pagar os dois mil kwanzas da deslocação. Foi uma confusão”.
Vítima de burla
Também a senhora Edna contou ao Expansão que já foi vítima de burla enquanto tentava alugar uma casa. “Há um sistema, em que alguns individuos fazem anúncios muito aliciantes e quando as pessoas ligam eles marcam a visita normalmente e dizem que há muitas pessoas interessadas na casa e que têm muita urgência para alugar. Muitos enviam logo documentos de identificação ou contratos para tentar dar alguma credibilidade e pedem já o pagamento para garantir que não alugam a outra pessoa. Quando a pessoa faz o pagamento deixam de atender o telefone. Infelizmente, só percebi o esquema depois de fazer o pagamento”, queixa-se.
Segundo ainda outros relatos, estes indivíduos cobram para intermediar o arrendamento de casas, a totalidade de um mês como comissão. E, contrariamente ao que prevê a lei, em vez de cobrarem ao proprietário da casa, exigem o valor aos clientes, já que os proprietários optam por fazer a negociação por conta própria para não gastar dinheiro em intermediação. Por este motivo, os chamados “mixeiros” fazem a proposta aos proprietários das casas sem custos para estes e transferem a comissão para os clientes.
De acordo com a Associação dos Intermediários de Angola, o exercício da actividade Angola, de intermediação por pessoas que não estão cadastradas à associação ou a outros organismos vocacionados é preocupante. “A nivel nacional, esta actividade tem sido desempenhada por muitos e em vários segmentos. Para a satisfação de necessidades de compra, venda, arrendamento e outros serviços, muitos recorrem aos intermediários como garantia para a sua realização. Mas, na maior parte das vezes, os clientes deparam-se com irregularidades, abuso de confiança, falta de transparência, e outras práticas, por se tratar de intermediários não associados a organismos que visam salvaguardar as partes envolvidas no processo.”
Expansão