RELATÓRIO. Empresas diamantíferas acusadas de elevar o custo de vida nas províncias do leste do país e de contribuírem para o desemprego da população que já não pratica actividade agrícola. Projectos de responsabilidade social acabam por ter pendor político, por isso maior contribuição registou-se em anos eleitorais. Sector dos petróleos tem apenas um projecto para a região do Leste.
Durante cerca de sete anos, entre 2017 a 2023, as empresas diamantíferas disponibilizaram um total de 235,8 milhões de dólares para a responsabilidade social no leste do país, investindo em programas de educação, desportivos, saúde, patrocínio e doações, e em desenvolvimento económico e social, nas províncias da Lunda-Norte, Lunda-Sul e Moxico.
Intitulado o caso do sector dos diamantes no leste de Angola, o relatório de responsabilidade social corporativa do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC), da Universidade Católica de Angola nota que, apesar de ser a principal actividade económica do leste do país, a exploração de diamante tem produzido “efeitos perversos” no desenvolvimento de outros sec-tores, com destaque para a agro-pecuária, além de contribuir “de forma significativa” para o desem-prego na região.
Na Lunda-Sul, por exemplo, está instalada a mina da Catoca que produz cerca de 60 mil quila-tes de diamantes, mas concentra o maior número de desemprega-dos, se comparada a outras provin-cias, uma vez, que cerca de 57,3%da população é desempregada. Já a Lunda-Norte, onde estão insta-ladas mais de 15 diamantíferas, é a quinta província do país com maior índice de desemprego, com cerca de 37,5% da população desempregada.
“Oprincipal impacto da exploração tem sido sentido no elevado nível de desemprego, na elevada taxa de urbanização e no elevado custo de vida no leste do país, com destaque para Lunda-Sul”, detalha o relatório.
O documento observa que a responsabilidade social das empresas do sector diamantífero tem priorizado mais a “abordagem política”, em relação à “abordagem integrativa e com muito menos relevância a abordagemética”. Considerando, contudo, que há indicações de uma “reduzida inclusão” das comunidades nas definições e desenvolvimentos dos projectos nas comunidades.
Os investigadores referem que se constatou que muitos projectos construídos não têm utilidade por não se adequarem às necessidades e à cultura dos beneficiários. “Há uma escola financiada no âmbito da responsabilidade social, que foi inaugurada em Novembro O estudo não deixa de reco-nhecer, no entanto, o desempe-nho da Catoca como “exemplo de empresa comprometida com responsabilidade social,” apesar de em cerca de 20 anos empre-gar apenas sete pessoas que são natos de Saurimo onde se encon-tra a mina. A empresa tem entre 0,5% e 2% das receitas brutas des-tinadas aos projectos de responsabilidade social.
No periodo (2017-2023), a empresa disponibilizou mais de 67,62 milhões de dólares, mas grande parte do valor foi disponi-bilizado em 2017 e 2022, anos de eleições, em que chegou a desem-bolsar cerca de 1,72% e 2,02% das receitas brutas, respectivamente. Em outros anos, o valor fixou-se entre os 0,73% e 1,30%. O dinheiro da res-ponsabilidade social da empresa é destinado para o desporto, educação e preservação cultural. O próprio governo provincial da Lunda-Sul é outro dos beneficiários.
SECTOR PETROLÍFERO SEM OLHOS PARA O LESTE
Durante o período em análise, o relatório do CEI Cindica que o sec-tor petrolífero registou 192 projec-tos de responsabilidade social em 15 províncias do país, avaliados em mais de 152,735 milhões de dóla-res, mas para a zona leste registou–se apenas um projecto, no caso para a província do Moxico ava-liado em 105,5 mil dólares.
Aslundas Norte e Sul não rece-beram nenhum projecto de res-ponsabilidade social das empresas petrolíferas. A Sonangol é a que mais desembolsou dinheiro para a responsabilidade social entre 017 a 2023, numtotal de 109,855 milhões de dólares, seguida pela Total com 17,583 milhões de dólares.
67,2 milhões de dólares foram disponibilizados pela Sodedade Mineira de Catoca entre 2017 e 2023.
Valor Económico